quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Quanto mais surpreender, melhor!

O sol invadiu seu quarto. As cortinas e as paredes eram claras o suficiente para produzir um despertar agradável. Aquele seria um bom dia de sol. Ela levantou e foi até o banheiro. Dentes escovados, banho tomado, cabelo seco e roupas previamente escolhidas. "Aqui vamos nós", e então ela saiu para mais um dia normal e, ainda assim, surpreendente.

Deu três tapas no despertador até que o mesmo caiu no chão. Levantou e se sentiu dominado pelo cansaço. Escovou os dentes, ligou o chuveiro, saiu e escolheu a primeira roupa que encontrou no armário. Quando abriu a porta e saiu para a rua, se sentiu cegado pela claridade do dia. "Oito horas para tomar cerveja" foi o que ele pensou, e saiu para mais algumas horas de trabalho.

Ela estava no café admirando o rapaz que estava ali todas as manhãs. Um relacionamento estável, um companheiro fiel e uma grande família. Qual mulher não deseja isso?

O rapaz que se sentia ainda meio zonzo devido ao choque que teve quando saiu do apartamento queria um pouco mais do seu quarto escuro e sua cama. Não trocaria sua vida por nada. Tinha a independência como sua aliada e vivia bem assim, obrigado. 

- Bom dia. Um capuccinho com chantilly, por favor - o pedido que ela fazia todas as manhãs.
- Oi. Um café extra forte - ele realmente precisava.

Em um momento de distração, ele se virou e derrubou seu café sobre uma blusa de tecido branco, vestida por uma garota de sorriso singular. 
- Desculpe! Vou pegar um pano - e ele foi até o caixa. 
- Tudo bem. Sempre tenho outra blusa debaixo, nem cheguei a me queimar - ela o tranquilizou. 
- Bom. O mínimo que posso fazer é oferecer uma blusa nova e o seu café de amanhã - ele sugeriu.
- Claro. Seria o mínimo - ela respondeu em um tom agradável. 

Há muito tempo, alguém insistiu em colocar rótulos em tudo, mas, quem disse que as surpresas que temos pelo caminho são uma desvantagem unânime? Quanto mais surpreender, melhor!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Sim, o Brasil precisava da Copa

O Brasil precisava da Copa. Claro, precisa ainda de muitas outras coisas, como investimento em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Mas precisava também desses jogos representados pela seleção brasileira. Até o dia nove de julho, onde tudo mudou de maneira drástica e em seguida irreversível, ninguém nega o que a nação havia se tornado até ali. Eram milhões de brasileiros revivendo a verdadeira emoção e o êxtase da torcida por uma conquista brasileira. Milhões de vozes gritaram embargadas de emoção e sorriram em meio a lágrimas de felicidade e orgulho.


Corações pulsaram como um só a cada chute, a cada defesa e a cada gol. Jogadores conseguiram reviver e trazer a tona as mais indescritíveis emoções, que haviam sido esquecidas há tempo - mas mereciam ser revividas. E foi isso o que a seleção brasileira fez e se tornou: o símbolo de uma possível conquista, a qual todos os brasileiros se agarraram fortemente. E então, tudo mudou.



Haviam erros tanto na escalação quanto no próprio espírito dos representantes brasileiros em campo - e isso é inegável. Foi uma derrota que doeu em cada patriota, mas, pior do que isso, massacrou seu único sonho de vitória. Porém, essa culpa não foi deles e sim de um sistema que reprime e aflige os mesmos milhões de brasileiros. Muito mais do que uma inspiração para a felicidade, cada jogo foi una escapatória da própria realidade, onde cada pessoa conseguiu se encontrar em um mundo mais forte e com mais chances de vencer.


O que realmente doeu não foi a perda do Hexa, e sim a perda daquela perseverança de que algo iria realmente dar certo. Que os problemas seriam sobrepostos pela comemoração da conquista de um troféu. Que haveria motivo de sobra para comemorar por mais algum tempo. O que doeu foi ver uma alegria - a única nutrida no momento - ser vencida. Doeu ter que deixar a torcida de lado para dar lugar à decepção e à tristeza que tomaram conta de cada um. Doeu ver a seleção sair de campo levando consigo uma esperança nutrida por milhares.

A perda do jogo foi culpa de quem estava em campo, mas essa angústia que revolta os brasileiros não. As fichas foram apostadas e, quando o jogo virou, sobrou apenas para aqueles que estavam ali sentirem o peso de uma revolta que misturava várias decepções - momentâneas e acumulativas.


O Brasil precisava sim da Copa para que fosse possível reviver os melhores sentimentos que ela despertou, e lembrasse a cada um como era aquela sensação de ter fé na vitória, e, por muitos lados, essa foi uma grande conquista. Basta agora cada um perceber onde está o verdadeiro fundamento de tanta decepção e descobrir seu enfoque. A maior prova que temos disso é o momento no qual o jogador David Luiz saiu do campo em lágrimas, pedindo desculpa aos seu torcedores e dizendo em coletiva: "Eu só queria trazer um pouco de alegria através do futebol". Palavras que o eternizaram no coração de muitos, que o elogiaram e lhe deram o título de melhor. Porque ele entendia o que realmente significava esse título.


Somos uma seleção de milhares e ainda temos a chance de vencer e passar por cima de tudo aquilo que realmente nos incomoda - basta compreendermos isso. Perdemos um título, mas ganhamos a chance de sentir e relembrar como é estar perto da conquista. Como é o sentimento da vitória e o quanto nós somos as pessoas responsáveis pelas decisões mais importante que estão por vir. Somos nossa equipe e defesa. Teremos o direito e a chance de alcançar a vitória.  E isso, para muitos, precisa e deve ser o suficiente.


segunda-feira, 30 de junho de 2014

Egocentrismo: um círculo vicioso

“Agora não”. Com que frequência você ouve essa frase? E quantas vezes por dia você a diz? Essa é a característica principal da atualidade: o egocentrismo. Culpa-se a falta de tempo, o que é apenas um reflexo da impaciência – algo que as pessoas deixaram de lado e não se preocupam em melhorar já faz algum tempo. A negação a um favor ou um pedido, seja o mais simples, se torna mais fácil e viável do que reservar um tempo para outras atividades ou afazeres que façam você se desprender da rotina. Então, até aqui, é possível concluir que a culpa é nossa – mas apenas em partes.



As modificações tecnológicas influenciaram não apenas no avanço, mas nas prioridades humanas – há mais meios para obter melhores resultados, logo, a exigência cresce proporcionalmente. Como consequência, a realização pessoal se tornou fator decisivo para alcançar bons resultados, e, em um mundo competitivo – de maneira não saudável – essa realização exige mais do que dedicação; exige abdicar. Pais que abdicam de passar tempo com a família para adiantar trabalhos que levam para casa; mães que se esforçam para serem a melhor que podem e acabam se deixando de lado, se entregando para todos os tipos de exaustões e doenças psicológicas; filhos que são influenciados pelos pais a estudar e buscar ser alguém que faça diferença, que desde o momento em que entram na escola são colocados em cinco ou seis atividades para desenvolver mais de uma habilidade – e acabam esquecendo, ou nem mesmo aprendendo a essência do que é ser criança. Garotas que buscam a independência o quanto antes, loucas para se aventurar em um mundo governado por si antes mesmo de aprender como fazê-lo; rapazes que conquistam o máximo que podem para, primeiro, aproveitar tudo e exibir suas conquistas.

Casamentos se tornaram apostas no que se refere a durabilidade. Traições já não são mais um problema, desestrutura familiar deixou de ser algo assustador. Famílias perdem a essência da união, dos almoços de domingo, dos almoços nos dias de semana, das conversas abertas. Foram construídos muros que parecem já vir com cada pessoa, e, ao se unirem, invés de destruí-los, acabam juntando-os. Vivem juntos, mas pensam e sentem separados. A realidade é que, a partir do momento em que o ser humano se viu livre para fazer suas escolhas, ao mesmo tempo percebeu que essa liberdade lhes dava opções diferentes, mas todas iam para o mesmo caminho.

  

As evoluções continuarão acontecendo e as pessoas precisam aprender a viver com elas e não para elas – é preciso que não se deixam mais dominar. Seres humanos precisam reviver sua humanidade e sua essência. Precisa aprender a se compreender antes de esperar que alguém os compreenda, ou que algum remédio os torne pessoas mais felizes. Dependências precisam ser deixadas de lado para que descobertas mais importantes possam ser feitas. A partir do momento onde o dinheiro compra paz, sono, 'saúde' ou satisfação, já não há mais um sentimento ou motivo verdadeiro para se estar aqui. Ninguém trilha passos e faz buscas sem o autoconhecimento. As amarras foram criadas pelas próprias vítimas, agora presas em suas dependência esdrúxulas e cegas para as necessidades do ser e sentir. Como você vai enxergar aquilo que precisa se coloca à sua frente aquilo que apenas quer? A idealização do que se é precisa ser mais importante do que o convencimento daquilo que se quer ser. Não se deixe submergir por satisfações ilusórias, elas nunca suprirão o que você realmente precisa.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Resenha do livro 'Ensaio sobre a cegueira', de José Saramago

Deixei de lado meu receio pela leitura brasileira e comprei o livro de José Saramago, o qual já havia ouvido falar e lido excelentes críticas. Essa foi uma aquisição feita após perambular uma hora pela livraria sem me interessar por absolutamente nenhum livro (algo que dificilmente acontece, depois de meia hora já tenho três ou quatro nas mãos e quero todos). Pois bem, escolhi o livro e fui para o caixa. Como todo leitor fanático, abri ele, admirei e senti aquele aroma inigualável de livro novo. No dia seguinte comecei a ler, e finalmente entendi sobre do que se tratava uma leitura pesada.

Nesse livro não existem travessões para as falas, elas iniciam em meio a narrativa do escritor. Normalmente iniciam com letra maiúscula após uma vírgula e assim sucessivamente. Não é necessariamente algo fácil se adaptar a um novo estilo, até mesmo porque esse em especial exige cem por cento da atenção do leitor. Não pode haver barulho algum, nada - absolutamente nada - que o distraia. A mente em si não pode se perder muito nos acontecimentos e pensamentos sobre, pois acaba confundindo as informações relatadas em seguida. Apesar de todo o esforço necessário para esvaziar totalmente a mente e ficar recluso de qualquer contato social, a leitura valeu muito a pena. A frase de abertura do livro já me garantiu que a narração seria algo inovador no meu campo de conhecimento literário.




O diferencial de Saramago

Nessa obra de Saramago não existem nomes. Os personagens principais são: o cego, a mulher do primeiro cego, o médico ou doutor, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o homem com venda preta e o rapazinho estrábico. Foi outro aspecto que achei interessante, porém, de alguma maneira, facilitou a leitura. A questão de usar nomeações e deixar de lado o nome da pessoa foi o que tornou a história do livro tão envolvente, como se transmitisse a mensagem de que não importa quem seja aquela pessoa, ela passa pela mesma situação e enfrenta o mesmo problema. em um mundo de cegos, não há identidade ou diferença. Saramago retirou os títulos e honrarias de qualquer personagem, apresentando-o como uma pessoa normal com suas reações e seu caráter verdadeiro em meio a uma situação impensável e aterrorizante.


Uma história surpreendentemente aterrorizante

Na primeira página do livro, o mix de mistério de drama já começa. Há um homem que está parado no semáforo, observando a luz vermelha e esperando-a ficar verde para poder avançar. De repente, tudo fica branco. Como o escritoe relata diversas vezes na história, "apenas via uma nuvem branca". Nesses momentos os carros que estão atrás começam a buzinar incansavelmente e as pessoas, algumas nervosas e outras preocupadas, vêm até o encontro daquele motorista para saber o que aconteceu. "Estou cego", ele diz. Nesse instante, apesar de sentir medo e aflição, ele é acudido por almas caridosas, que se sentem preocupadas e quem ajudá-lo. Entretanto, foi a partir da declaração feita pelo personagem inicial que a história desencadeou de maneira surpreendente. Aquele homem que ficou cego sem motivo aparente relata o caso para sua esposa, e ambos vão procurar um oftalmologista. Nem o médico dos olhos e nem mesmo Saramago nos satisfaz com a explicação do porque essa cegueira repentina apareceu, e durante o livro você acaba se perguntando se é um castigo ou alguma prova, se está relacionado a Deus ou se as próprias pessoas são causadoras desse mal.

Nem mesmo a primeira vítima ou seus amparadores sabiam que aquela cegueira era contagiosa. O fato que ocorreu em seguida foi que todas as pessoas que tiveram alguma aproximação com o motorista cego acabaram cegando, e assim sucessivamente, até que quase todas as pessoas, no mundo inteiro, perderam sua visão - o mudo era agora uma nuvem branca. Digo quase todas porque - e essa é a personagem que dá o desenrolar de grande parte da história - a mulher do médico parece ser a única exceção à medonha epidemia de cegueira, o que no começo parece ser uma vantagem - olhos em um mundo cego. Entretanto, é durante a leitura que se percebe o quão difícil é carregar o fardo de enxergar todas as falhas humanas, o que faz com que a personagem diversas vezes deseje ter o mesmo destino dos demais.

No início, da epidemia, quando o desespero toma conta do governo e das demais pessoas, as autoridades trancafiam um grupo contagiado - os personagens citados anteriormente - em um manicômio, onde a sua sorte foi ter como guia a mulher do médico, que mentiu para os demais afirmando que estava cega, afinal, não poderia abandonar seu marido nessa situação. Ela esconde de todos - menos de seu companheiro - que não foi atingida pelo contágio, buscando conhecer e tentando auxiliar o máximo possível as pessoas que estão naquela situação desagradável, sendo tratadas como uma doença fatal, em um lugar repleto de escadas, sem água ou um banheiro decente.

O legado da nuvem branca

Conforme o tempo passa, chegam mais e mais vítimas da cegueira ao manicômio, até que a capacidade máxima lota o ambiente. A ração - como chamam a comida que recebem - começa a faltar e, em meio a mais de duzentas pessoas, o verdadeiro - e na maior parte das vezes mau - caráter brota e atinge a todos. Alguns se unem para se ajudar, outros, para prejudicar os demais. Nessa luta cega pelo ego e orgulho, vidas são ceifadas, traições são cometidas, abusos de todos os tipos são sofridos. É uma leitura dura, e digo isso no sentido total da palavra, onde as frases irão atingir você de tal forma na qual se sentirá obrigado a absorver aquilo como uma verdade do mundo, e não apenas de uma história ficcional - por pior que seja. Uma leitura que irá fazer nascer sentimentos de revolta, angústia, raiva, nojo, emoção e amor que, ao final do livro, serão unidos e trarão ao leitor uma nova perspectiva sobre a vida ao seu redor, ou melhor, sobre as pessoas que o rodeiam. Um livro que faz você pensar, "e se isso acontecesse comigo agora mesmo? Qual dessas personagens eu me tornaria?"

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Quando o destino dá uma segunda chance

Silêncio absoluto. Laurie abria seus olhos devagar, tentando de acostumar com a claridade que invadia cada canto do cômodo – ao qual ela nunca havia lembrado de ter visto. Sua cabeça latejava, e, em meio ao silêncio sepulcral no qual se encontrava, suas memórias gritavam incessantemente. “Parem. Me deixem em paz!”, ela ordenava aos seus pensamentos. Após 15 minutos, ela conseguiu lidar com aquela situação e tentou se situar. “Aonde diabos estou?”, pensou consigo.

- Marty? Marty, onde você está? – ela falou, alto o suficiente para que qualquer pessoa que estivesse por perto a ouvisse. Não havia ninguém. “Não vou deixar que você tome conta de mim”, ela bradava contra o desespero. De fato, ela precisava urgentemente de sua sanidade naquele momento, caso contrário, estaria perdida – como outras pessoas estavam.

- Tem alguém aí? Por favor, não sei como vim parar aqui – disse. Nesse momento, quando já havia passado cerca de uma hora desde que acordou, sentiu dor no braço. Estava formigando, assim como todo o seu corpo. A sensação não era nada agradável e estava deixando-a perturbada, além de psicologicamente exausta.

Tentando deixar essa sensação de lado, levantou e foi dando passos lentos em direção a porta de saída, ela respirou fundo duas vezes e a abriu. A cena era devastadora. Haviam chamas quase apagadas, crateras, árvores com folhagem morta, um cheiro de excreto insuportável. “Meu Deus”, ela suspirou.

- E o que Deus tem a ver com isso, Laurie MacCwood? – disse o homem que estava do outro lado da rua, mas que ela jurava que não estar ali há um minuto atrás.

- Q-quem é você? – gaguejou a garota. Estava amedrontada e, convenhamos, tinha seus motivos.

- Estamos em lugar nenhum. Absolutamente do meio do nada. As únicas pessoas que você verá aqui perderam sua sanidade há anos e jamais saberão quem você é, e você está preocupada com quem EU sou? – o homem misterioso deu ênfase ao falar de si, e perguntou algo que a deixou sem palavras - Talvez a pergunta seja, quem é você nesse mundo sombrio? Por que está aqui?

Laurie não sabia. Sua mente tentou ao máximo recordar o que havia vivido nas últimas horas. Havia chego em casa, subido, tomado banho e ido deitar. E então, por algum motivo que aparentemente não envolvia Deus, ela acordou ali.

- Difícil não é? Bem, talvez devêssemos voltar um pouco no tempo. Vou ajudar você – e ele deu um sorriso malicioso – há algo que você tenha feito para que mereça estar aqui?

Laurie se sobressaltou.

- Não tenho a mínima ideia de quem é você. Como ousa querer saber algo da minha vida, se nem ao menos nome você tem? – gritou a garota.

- Ora, ora. Não leio pensamentos senhorita MacCwood, mas, já que pediu com tanta delicadeza, lhe respondo. Meu nome é Gabriel, e estou aqui para tentar lhe mostrar a real pessoa que você é.

“Gabriel? Anjo Gabriel? Não Laurie, não seja louca!”, pensou ela, achando estar perdendo sua sanidade apenas por cogitar aquela ideia de que anjos existissem, e jurou que Gabriel estava sorrindo naquele momento.

- Não fiz nada para merecer estar aqui. Quero voltar para o lugar aonde pertenço – disse Laurie, em tom desafiador.

- Mas você está em um lugar ao qual pertence. Bom, você está no lugar ao qual merecerá pertencer, e não me olhe braba, isso é mérito seu – disse o homem que, apesar de possuir um nome, continuava a possuir um ar misterioso.

- Um lugar ao qual vou me fazer pertencer? Você por acaso veio do futuro? – ela estava realmente perdendo a paciência.

- Não. Veja bem, estou tentando ajudá-la. 

- Me ajudar?! Você não me conhece, como acha que pode me ajudar?

- Doce Laurie – disse Gabriel, com uma voz atenciosa – desde pequena, sempre apegada aos pais. Cresceu, sofreu perdas irreparáveis. A dor devastou seu coração e tirou sua razão. Conheceu um novo mundo, tão escuro e sombrio, mas se entregou a ele. Chora todas as noites procurando consolo, roga por Deus, mas prefere ir ao encontro do diabo...

Laurie ficou atônica. “Como ele sabe disso? Nunca contei para ninguém. Nunca chorei alto. Nunca compartilhei o que sinto”, pensou em uma fração de segundo. Seu sangue corria rápido em suas veias, seu coração acelerava, seus pensamentos dançavam e se misturavam. A confusão era total.

- Como você sabe disso? – ela havia abaixado o tom de voz, e, como uma típica pessoa confusa, estava olhando para baixo, mas não enxergava nada.

- Você não está focando no importante. A pergunta que merece resposta é: será que vale a pena continuar com isso?

Para melhor compreender o rumo que a história irá tomar, cabe aqui uma breve explicação, mas necessária para o entendimento alheio. Laurie havia perdido seu pai em um acidente de carro. Ela era filha única e viu sua mãe aos poucos se entregar para a loucura, a qual obrigou-a a internar a única pessoa que amava em um sanatório, pensando estar cumprindo seu papel de boa filha. Seus tios haviam oferecido sua casa para ela passar um tempo, mas ela descobriu o quão aproveitadores eles eram e saiu de lá o mais depressa possível. Conheceu Lilie, e com ela, as drogas. Se entregou a todo tipo de vício. Largou os estudos. Trabalhava como garçonete para pagar a pensão do barraco onde morava e havia entrado no mundo da prostituição. Agora, com a explicação dada, retornemos aos acontecimentos seguintes.

- Eu não tive escolha – ela sussurrou.

- Você teve escolha, mas escolheu o caminho mais simples. E ele muitas vezes pode ser o mais fácil para percorrer, mas a dor não vale a pena. Ou vale? – perguntou Gabriel.

- Não. Mas agora está feito. Não há que eu possa fazer para modificar minhas atitudes – contornava a garota.

- Apenas aquelas que você já tomou. E quanto as que irá tomar? – indagou o homem.

- As que irei tomar? Que decisão você acha que eu vou ter que tomar nesse fim de mundo? – perguntou Laurie, se irritando novamente.

- Esse fim de mundo vai ser o seu fim. Você estará destinada a viver vagando em meio a essas pessoas insanas pelo resto de sua eternidade – bradou Gabriel.

- Não. Não. Eu vou ficar louca! Se já não estou... – e se interrompeu.

- Cada pessoa no mundo possui uma história. Ao fim de cada vida, diferente do que contam nessas estórias que passam de boca em boca, mas nunca provam ter fundamento, cada uma é destinada para um mundo – aquele que construiu – disse ele. 

- Mas eu não construí esse mundo destruído – ela disse, mas no fundo, soava como uma indagação.

- Nenhuma das pessoas que está aqui acha que o fez. Mas no fundo, acabaram enlouquecendo por descobrirem que merecem estar aqui – respondeu Gabriel.

- C-cada uma das pessoas que está aqui já morreu? Então eu morri? – e o corpo dela tremeu.

- Não, ainda não. Embora, com a vida que leva, talvez não demore muito. Mas, existe algo chamado ‘segunda chance’. É o que tento dar para cada ser humano. Tento lhe mostrar a que lugar irá pertencer e, se ele me escutar, terá um destino totalmente diferente. Mas, aqueles que decidiram achar isso uma bobagem, bom... são pessoas condenadas a própria loucura – as palavras dele foram um golpe nela.

Laurie estava assustada, como nunca estivera em toda a sua vida. Ela repensou cada passo que havia dado para o caminho errado depois que internou sua mãe, e lembrou há quanto tempo não ia visita-la. Após alguns instantes, ela disse:

- Já não sei qual é o sentido da vida para mim. Talvez eu deva pertencer a esse lugar.

- O sentido da vida é um só: viver. Como você o utiliza é o que faz toda a diferença.

“O que faz sentido aqui? Provavelmente nada! Já não faço mais sentido mesmo...”, e nesse momento, Gabriel disse:

- Mas pode fazer.

- Ei, você disse que não podia ler pensamento.

- A menos que eu não queira. Mas você fala muito pouco e está me deixando incomodado com esse silêncio. Uma pequena interrupção em um pensamento tão desconexo não vai piorar sua situação.

- Obrigada por admitir que ela está horrível.

- Mais uma vez, isso fica a seu critério.

De muitas formas, Gabriel a irritava, mas no fundo, ela entendia o que ele queria dizer e não protestava mais.

- Ok. Há um mundo melhor, repleto de flores e alegria. Como eu faço para conseguir ele?

- Quatro suposições ilusórias. Não há um mundo melhor, há uma eternidade melhor. Você não consegue, você vive para alcancá-lo. Não é repleto de flores e alegria, mas de pessoas como seu pai, que estão lá aguardando o reencontro. E, por fim, não é como você faz, mas como você vive.

- Meu pai? – essa era a única parte de todo o comentário que havia atraído a atenção dela.

- Sim. Ele está lá. E posso garantir que espera você, assim como espera sua mãe, que logo deve estar chegando.

Uma lágrima caiu do olho direito da menina. Naquele momento, ela desejou mais do que tudo uma segunda chance, que Gabriel desse a ela a oportunidade de se reencontrar e viver com seus pais – o desejo que ela mais nutria em seu coração.

Não foi preciso mais nada. Já ouviram ou leram como atos de fé sinceros são atendidos? E esse foi. Laurie acordou em seu quarto, o qual dividia com mais cinco garotas que tinham o mesmo estilo de vida que ela. Entendeu enfim que aquela havia sido sua segunda chance – e que não há terceira. Se ela conseguiu alcançar o seu objetivo ou não, ficou ao seu próprio encargo, da mesma maneira que fica ao meu ao seu chegar aonde se deseja. A realidade é que cada um vive a vida que quer, destinando-se ao futuro que merece. Mas o futuro, para muitos, é apenas algo que não faz sentido exigir preocupação, mas, quando ele chega de repente, qualquer um se assusta e amedronta com aquilo que vê. E você, o que você anda fazendo com o sentido da vida? Que tal uma viagem ao futuro?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quando não se pode parar...

O mundo estava embaçado. Embaraçado. As pessoas estavam confusas, pareciam não saber nem ao menos quem eram ou porque estavam ali. As ruas estavam desertas e folhas dançavam a melodia que o vento trazia. Árvores que antes forneciam sombra e frescor, agora pareciam tristes, incapazes de manter sua folhagem viva. O ar estava pesado, tornando a gravidade quase insuportável. Mas aquilo nada mais era do que um reflexo dela - do que sentia, sobre o que pensava e como enxergava. 

O mundo estava normal. A gravidade continuava a mesma, as árvores permaneciam com a mesma vivacidade da qual ela se lembrava ter visto um dia. As ruas estavam repletas de crianças brincando e se divertindo, de casais passeando e de cachorros correndo e pulando. As pessoas não haviam mudado, e, ainda que todo e qualquer ser humano se perca vez ou outra durante seu trajeto pelo mundo, naquele momento em especial, sabiam exatamente aonde estavam e porque viviam.

Era apenas ela, refletindo suas emoções naquilo. Para se sentir melhor? Talvez. A infelicidade, quando compartilhada, se torna menos desagradável. Quem sabe, ela havia escolhido essa perspectiva para fugir um pouco de si e poder sentir que ainda havia um mundo para ela, apenas esperando para ser explorado. Talvez na próxima esquina, se ela tivesse a coragem necessária para chegar até lá e virar, descobrisse que fora apenas uma passagem ruim, mas logo a frente estava sua escapatória.

Permaneceu imóvel na beira da calçada, observando tudo o que sua mente criava e fazia acreditar ser real. Não se sabe até hoje o que a levou até aquele ponto, até aquela sensação. Aos poucos, ela foi caminhando. Para qual direção? Aquela que seu coração a guiasse. O que ela encontrou no caminho ou quem a encontrou durante esse tempo, não se sabe. Mas, depois que ela deu o primeiro passo, desprovida de lucidez, ela acabou encontrando sua sanidade. E continuou. Passo a passo, degrau a degrau, momento a momento. Tudo o que se sabia sobre ela, era que precisava redescobrir o sentido de algumas coisas. As quais é impossível viver desacreditando. E tudo o que ela sabia, era que precisava seguir em frente... sempre.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Tecendo suposições

- E como você tem passado nas últimas semanas? - Eu simplesmente precisava saber.

"Que pergunta estupidamente calculada" pensei comigo. O que será que ele espera que eu responda? O que será que eu respondo? Já não paro para pensar como me sinto há dias, e provavelmente não terei capacidade para lidar com isso agora. Não aqui, de frente com ele. Seus olhos me fitando e sua face imóvel, tipicamente absorto em pensamentos, pronto para ser despertado pela minha resposta. 

- Não sei. - Sim, eu respondi exatamente isso. Era o que eu tinha para expressar no momento. Sou um turbilhão de sentimentos interrompidos. Alguns se sentem renegados e afugentados pela angústia, outros acreditam que devem lutar para serem recompensados. Nesse duelo, tenho perdido noites e dias, sono e fome. Já não posso ser a pessoa que tinha confiança em seu amor próprio. Como poderia? Nesse mix de confusão que ofusca minha lógica. Hora insensível, hora dramática. Ainda ontem havia decidido desligar todo esse lado emocional, desconectar de lembranças que poderiam me afligir novamente. Ainda ontem...

- Hm... bom, você parece bem. - Mas que droga! Como ela parece serena. Como ela consegue? Tenho certeza de que já não pensa mais em mim, e não posso culpá-la, eu também não queria pensar mais nela. Mas, cada vez que ela pisca os olhos, tenho medo que desvie. De mim. De nós. E se ela já não me sente mais como parte dela, por que ainda sinto que estamos tão próximos?

- Bem. É, parece ser essa a palavra para o momento. - Foi o máximo que consegui me concentrar para responder. Talvez eu esteja bem, talvez eu tenha conseguido me desligar. Ele soa tão indiferente à minha indiferença. Então por que não sinto que estamos realmente desconectados de nossas lembranças?

- Preciso ir. Espero poder encontrá-la mais vezes. - Sim. Foi essa a frase que escolhi para me despedir, meu adeus e meu desejo.

- Eu também. - A educação falou mais alto aqui. Não sabia se realmente desejava isso. Não gosto de incomodar meu desligamento com faíscas de esperança. 

Então, cada um virou para um lado. Seguiram separados, cada qual com suas suposições e tecendo ideias vãs a respeito daqueles minutos. É difícil dizer quando ou se chegaram a se ver novamente. Encontraram novos sentimentos em novas pessoas e foram felizes assim. A realidade é que a separação física maltrata suas vítimas a tal ponto onde é preferível pensar que acabou e não há volta. E, enquanto essa separação durar, as suposições duram com ela. Mas às vezes basta um encontro de olhares para remexer aquele passado. E por isso sentimentos são tão difíceis de lidar, porque insistem em sobreviver a toda e qualquer distância, suportando longos períodos de separação só para terem o prazer de serem revividos vez e outra.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Os dois lados da perspectiva

"Mesmo um ateu convicto, em seu último suspiro busca acreditar em algum paraíso, afinal, a vida não pode ser simplesmente alguns anos e fim. Ela deve ter alguma continuidade, seja onde for e da maneira que for. Se os filósofos apontam que nada se perde, tudo se transforma e os fiéis professam que há algo para se esperar além da vida, como devemos encarar qualquer fim?" E foi assim que Lara terminou de escrever em seu diário naquela escura, fria e embaçada noite de março. Sua vida não estava nem perto de chegar ao final, ao menos, era o que previa. Entretanto, faltava muito para ser descoberto e vivenciado.

Um dia de chuva para ficar embaixo do guarda-chuva e fugindo dos pingos pode ser um dia para se molhar e dar um "banho na alma", como costumam falar. Tudo é um reflexo da sua maneira de encarar as coisas. O dia de ontem foi similar ao de anteontem, e esse ao dia anterior, que será igual ao dia de hoje. Confuso? As pessoas costumam simplificar e nomear esse processo de: rotina. Aquilo que se faz repetidas vezes, nos mesmos momentos, nos mesmos lugares e com as mesmas pessoas. Lara não achava que poderia encarar todos os dias de sua vida assim, apesar de já estar fazendo isso há 21 anos. A rotina muda conforme as exigências do tempo, e sobre ele não temos o controle de avançar ou acelerar, mas temos o poder de escolher o que fazer com o seu uso.

Houve o dia em que uma garota acordou e decidiu fazer tudo diferente. No outro dia fez o mesmo, e no dia seguinte também. Mas, cuidado ao interpretar esse "tudo". O tudo de alguém pode ser o que tem, o que quer ou seus pensamentos. Há de se lembrar que, quando mudamos nossa maneira de encarar as coisas, elas mudam, e nós também. Afinal, será que mudar "tudo" é tão difícil assim? Ou serão somente a grande maioria das pessoas que não buscam viver cada dia após ter quase perdido a vida? Que se importam em demonstrar o que sentem quando perdem aquele que amam? Que buscam realizar seus sonhos quando estão no último estágio, como uma forma de encarar que sua vida valeu a pena nos últimos segundos?

Se apegar a Deus quando tudo está perdido poderá te salvar, mas não irá fazer com que você não se reprove por ter feito as coisas do jeito que fez. Fazer alguém feliz no último instante vai realmente revelar um sorriso, mas será mais de alívio do que surpresa e gratidão. Ir no show da sua vida na última oportunidade irá realizar seu sonho, mas não deixará de fazer com que você veja quantas vezes poderia ter aproveitado aquele momento. É essa mania de deixar as coisas mais importantes por último que acaba com a graça toda. Torna tudo uma tentativa desesperada de fazer com que aquilo que você sonhou durante toda a sua vida e as coisas pelas quais lutou mostrem seu valor no acréscimo, mas, se é assim, o que você fez nos últimos 45 minutos?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Entre o adeus e o sentir

Não haveria de proferir-lhe uma palavra a mais que fosse. Concluíra que novos argumentos de ambas as partes não levariam um passo a frente - antes fariam regredir. Colocou-se de pé, sem já saber como poderia suportar aquilo ou de que maneira iriam seguir agora. De fato, não haveria mais sentido permanecerem juntos, haviam deixado isso claro há alguns minutos, mas, na realidade, isso já estava destinado a acontecer desde o começo. 

Agraciados com gênios fortes, não possuíam compatibilidade alguma, mas a teimosa recíproca fazia com que tentassem permanecer unidos. Os últimos dois anos foram os mais turbulentos dos quatro, e agora, frente a frente, tiveram seu primeiro momento de entendimento: viram que já não mais haveria de fazer sentido prolongarem essa união por mais um dia. Em meio as lembranças de alguns bons momentos, ainda que raros, deixaram permanecer a Paz da despedida. Não houve rancor, acabaram-se os gritos e não foi feita uma cena de filme mexicano.

Ela ainda não sabia como haveria de iniciar essa nova fase, mas já obtinha planos possíveis. Desejos e sonhos que a faziam ver alguma luz à frente, para lá que seguira. Ele ainda não possuía um cronograma definido do que fazer depois, mas não se deixou abater pelo imprevisível, tinha uma intensa paixão pelas surpresas que a vida lhe apresentava. Assim sendo, souberam despedir-se, sem mágoas, sem desafetos e sem indagações. Já haviam provado um ao outro tudo o que fosse possível tentar para manterem-se lado a lado, mas os argumentos haviam terminado e a paciência também. Entretanto, não podiam permetir-se que houvesse um rompimento sentimental, o amor deveria permanecer vivo em seus corações, e, por mais que soubessem e admitissem não fazerem sentido juntos, sabiam que se amariam até o fim de suas vidas.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A raridade da constância

Não sabia como deveria seguir dali para frente, mal sabia que era apenas uma questão de começar a andar, seu caminho já estava traçado e a levaria adiante. Já havia passado por isso tantas e tantas vezes. Com os prós e contras que a vida lhe impôs, havia aprendido muito. Era uma garota que desprezava as coisas insensíveis - era de primordial importância que houvesse uma sensação, um desejo, um incentivo. Sua essência ansiava por novas descobertas, as imprescindíveis novas experiências que fariam parte de suas novas escolhas. A vida é uma constante mudança e a renovação sempre vai fazer parte da vida de qualquer e todo ser.

Seu estado de espírito era inconstante: hora apaixonada, hora rancorosa, hora encantada, hora desacreditada. Como todos nós somos, ela também era várias em uma só e a cada momento se transformava. Entretanto, diferente das almas que conhecemos, ela tinha uma vantagem: sabia se recompor cada vez mais forte, mas o principal era: sabia se manter quem era. Com as inevitáveis despedidas e os desejados encontros, ela ia ganhando forma, mas não se deixava levar pela tristeza de um adeus, ou pela empolgação de um olá. Como sabia, haviam poucas pessoas que a entendessem, porque na grande parte, basta uma despedida para modificar e reestruturar uma essência.

Nem todos são suscetíveis a dor sem obter disso trauma algum e poucos são os que sabem aproveitar a felicidade deixando um pouco guardado para depois. Alguns acham mais prudente desfrutá-la por completo, sem lembrar que, em algum momento, precisarão revivê-la e o encanto dela precisa e deve estar lá. Mas, como se supõe, ela era uma raridade do mundo, e era isso que procurava em cada esquina, em cada olhar e em cada encontro: uma raridade que soubesse com ela, desfrutar os anseios e devaneios constantes.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

As várias faces de Anne

Desde o momento em que acordou até a hora em que se deitou para dormir novamente, Anne foi várias pessoas em uma só. Pela manhã, aborrecida pelos compromissos matinais diários - ir trabalhar - virou para o lado e resmungou. Respirou fundo duas vezes e levantou. Zonza pelo movimento, cambaleou até o banheiro e começou a se arrumar para sair de casa. Seu humor fazia dela uma pessoa anti-social e principalmente, alguém difícil de se conviver. Ela olhou para o relógio que apenas mostrava que eram 8h, sentindo-se apressada e acusada por um aparelho eletrônico de estar atrasada, o xingou. Voltou para o quarto. Dentes escovados e cabelo penteado. Sua roupa já era separada na noite anterior para economizar tempo. A porta do armário ficava aberta a noite inteira para evitar que, de manhã. tivesse um de seus momentos revoltados e travasse. Roupas colocadas. Sua aparência já era melhor. Um pouco de perfume, um brinco bonito e... uma água no rosto. Pronto. Já se sentia melhor. Nesse momento, ela se transformava em uma Anne sociável.

Saindo de casa, pegando o pote que tinha seu lanche da manhã pronto, conferiu se tudo estava fechado e deu tchau para sua companheira de quatro patas, a querida e espoleta Leslie. Saindo e trancando a porta atrás de si, pegou o elevador e foi até o andar térreo. Entrou e seu carro e, antes que pudesse pensar em todo o trânsito que enfrentaria, colocou a melhor música do seu repertório: "Matchbox Twenty - Unwell". Música era como um jato de calmaria no estado de espírito agitado da garota. Ligou o carro, saiu da garagem e seguiu em direção a um novo dia de trabalho. Depois de meia hora, chegou ao seu destino, nem tão transtornada pelo atraso - a música, mais uma vez, havia salvado seu humor naquela manhã. Estacionou e foi em direção à fábrica. Entrou, cumprimentou a todos com um sorriso encantador e seguiu em direção a sua sala. Naquele lugar, ela era a Anne amável, respeitada e admirada pelos colegas.

O relógio marca 18h. Hora de correr! Anne sai às pressas, corre para o carro e segue em direção a faculdade. Nem todo dia há tempo para tomar banho, trocar de roupa e comer algo. ela chega 18h45min - 15 minutos após o início da aula. Estaciona e corre para a sala. Lá, ela é a Anne dedicada, atarefada e afobada. Uma garota que as pessoas gostam de ter por perto e que representa um bom caráter. Apenas algumas horas depois, às 22h, as aulas terminam. Hora de voltar para casa, ou melhor, para Leslie. Perto das 23h Anne chega de volta ao condomínio. Deixa seu carro lá, com o alarme ligado, vai para o elevador e chega ao apartamento 512. Abre a porta e é recebida por pulos e um rabinho feliz e incontrolável. Lá, Anne é a pessoa que ama, cuida, alimenta e dá carinho. A representação de uma mãe amável e dedicada. Após fazer pipoca, abrir uma lata de guaraná e sentar no sofá, Anne se transformava na garota romântica e alegre que se emociona com filmes de romance e se diverte assistindo Friends.

Perto da 1h, ela vai para a cama, acompanhada de Leslie, que já dormia na sala. Junto a sua pequena companheira, dorme e parte para o mundo dos sonhos, onde ela é a garota fantástica que todos os dias procura vir a ser - cada dia um pouco mais, até alcançar seu objetivo. Seis horas depois, o alarme do celular começa a tocar, acordando-a para mais um dia. Mas hoje seu humor não é tão negro. Ela levanta, sem nem precisar suspirar ou resmungar. A cada dia, ela incorpora mais de dois ânimos, variados estados que vão do estresse a afobação, e da saudade ao drama. Mas conforme as horas passam, diariamente, ela aprende a conviver com aquele dia que lhe foi dado. Pensava: "hoje não há motivos para se preocupar com tempo ou pensar no amanhã, afinal, hoje é sexta-feira". E assim, partiu para aquele que considerava o dia mais incentivador da semana, que corria com um único propósito: fazer com que Anne chegasse logo em casa e pudesse passar várias horas assistindo filmes e comendo besteiras com Leslie, sem hora para dormir ou acordar, e sem hora para se sentir infeliz.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Pendências: o mal das gerações

Um tema muito abordado nos últimos anos é a questão do tempo, ou melhor, a falta dele. Ironia falar que se comenta sobre isso há anos e mesmo assim a insatisfação e falta de solução permanecem. Vários livros foram lançados sobre as melhores maneiras de organizar seu tempo, mas as pessoas não querem seguir uma fórmula, mas sim conseguir realizar seus sonhos. O problema é o acumulo: o desejo de estudar, se sair bem, conseguir um bom trabalho, ter tempo para os amigos, ter tempo para a família, dedicar tempo ao companheiro e desfrutar de algumas horas de paz, enfim, ter o seu próprio lazer.

Nos primeiros anos da infância, conhecidos como os anos mais felizes e saudosos de nossas vidas, não há falta de tempo, às vezes, há até uma sobra dele. A vida se resume a aproveitar - se divertir, rir, brincar, inventar passatempos e fazer as tarefas. E conforme a criança vai crescendo, todo aquele brilho e liberdade que possuía vai sumindo aos poucos. E então, a responsabilidade é dela? Por ter que dedicar menos tempo para si e mais para as exigências do mundo? Ou é do mundo, que exige dela esse tempo para que ela possa se envolver nos assuntos sociais e fazer parte de um todo? Não há como realizar sonhos sem dinheiro, não há como ter dinheiro sem trabalho, não há como ter um bom trabalho sem uma base forte de estudo, não há como obter o estudo e o conhecimento sem dedicação, não há como possuir essa dedicação sem envolver horas de seu tempo para aprimorá-la. Não há como aprimorar o principal sem se desvincular do essencial - o lazer, o prazer.

Então, voltamos a pergunta que ronda as gerações passadas e mais ainda a atual: como podemos ter tempo para tudo? Bom, mesmo com inúmeras publicações, conselhos e dicas, a verdade que permanece até o momento é: não podemos. Dificilmente haverá como realizar todas as coisas que você sonha e fragmentar pedaços do tempo para serem utilizados da maneira que você deseja. Ainda que o dia tivesse 48 horas, as dificuldades permaneceriam, devido ao fato de que quanto mais tempo possuímos, mais queremos fazer bom proveito, e o bom proveito é proveniente principalmente de um trabalho bem feito para alcançar metas - algo que, quanto mais tempo possuísse, mais exigiria.

A maneira mais eficaz que conheço para não se sentir oprimido pelas responsabilidades e saudoso das vontades é: a cada dia, foque em uma prioridade. Um dia, se dedique ao estudo, no outro, se dedique aquela leitura que está sendo deixada sempre para depois, em seguida, esteja mais disposto no trabalho para poder descobrir novos meios de realizar aquela mesma tarefa, mas de uma maneira inovadora e mais eficaz. No dia seguinte, separe um tempo para dedicar aos seus relacionamentos - seus amigos, parentes e namorado. E assim, dia após dia, concentre-se em uma nova perspectiva, mas o grande segredo é: nunca esqueça que, apesar do enfoque, todo o resto merece atenção. Se você nunca deixar nada parado e para depois, conseguirá obter um resultado a mais em alguma coisa cada dia, e vários resultados significantes que irão servir para manter seus objetivos em andamento. Talvez ainda haja algum tempo faltando, mas nunca com coisas pendentes - são elas que sufocam.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O destino das almas

Diariamente encontramos e conhecemos novas pessoas, novas formas e novas histórias. Nos deparamos com suas situações, medos e aflições, mas também temos a sorte de conhecer seus sonhos e sua alegria. Deus nos concede a chance se viver cada novo dia, mas as pessoas que entram em nosso caminho nada mais são do que uma consequência de uma série de escolhas que nos possibilitaram estar aqui hoje. Em um mundo marcado por encontros passageiros e desencontros indesejados, uma alma especial sabe reconhecer instantaneamente a outra. 


Depósito de sentimentos

Lugar de descanso, onde corpo e mente repousam para deixar que os pensamentos fluam livremente. Não há uma pessoa que já não tenha aproveitado do conforto que ela oferece. Entretanto, ali, naquela sala, sua superfície plana era muito mais que um lugar onde se está rodeado de amigos, jogando conversa fora ou simplesmente esperando - lá ela serviria como suprimento para as mais diversas pessoas, das mais variadas culturas, jeitos e carregadas com os mais intensos sentimentos. 

Com seu encosto reclinável e seu assento estofado, quem deitava-se ali estava o fazendo com apenas uma intenção: deixar as palavras saírem e o corpo relaxar. Isso era tudo o que poderia oferecer para aquelas tristes e sonhadoras pessoas: conforto. Já nem sabia ao certo quantos anos fazia desde que havia sido retirada da loja e colocada naquela sala, mas lembrava-se de cada um que já utilizara seus benefícios e toda vez que a pessoa voltava ela estava preparada para oferecer uma estadia ainda mais agradável. 

Cada coisa que é feita no mundo possui seu propósito, uma tarefa, uma missão. Ela sabia qual era a dela e sempre tratou de fazê-la com a maior dedicação possível, dando o melhor de si. Aqueles que acreditam que os objetos são apenas matéria, com certeza entenderão esse texto como uma loucura. Mas aqueles que conseguem pensar e sentir além entenderão o quanto isso pode confortar o que muitos sentem. As coisas não são feitas com tanta perfeição para serem apenas "coisas", e naquele consultório de psicologia era isso o que aquela simples cadeira representava: companhia.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Fantástico Mundo de Larry

Como foi a principal fonte de inspiração - além da minha mãe - para criar o blog, nada mais justo que ter como primeiro post a história de Larry, uma caneta com uma missão e um significado muito maior do que o mundo tradicional poderia compreender. A linha de pensamento foi inspirada na aula de redação, que tinha como tema: caneta. As melhores ideias resultam das circunstâncias mais loucas e inusitadas :)


O Fantástico Mundo de Larry

            Em 1999, nos Estados Unidos da América, no estado da Pensilvânia, na cidade de Washington, havia uma fábrica de canetas chamada “Pen For Fun!”. Em janeiro daquele ano, em homenagem aos 140 anos da cidade, a fábrica fez uma coleção de canetas nomeada “Colorful World” – todas possuíam o emblema do município. A coleção era tão especial que foram criadas apenas 80 canetas, sendo que cada conjunto de dez possuía uma cor diferente, que variavam entre roxo, rosa, verde, azul, preto, cinza, vermelho e laranja. Após concluir a coleção, foram enviadas uma de cada cor para cada papelaria da cidade. As embalagens era individuais e cobriam a caneta inteira, sendo assim, era impossível saber qual cor havia sido escolhida até que o papel fosse rasgado.

            Cada caneta possuía um nome, e, uma em particular, foi batizada como “Larry”. Assim como todas as outras canetas, Larry foi destinado para um centro de comercialização de materiais escolares, mas seu destino seria muito diferente das outras. A partir do momento em que há um valor, nada é algo – tudo se torna importante e significante. No seu material, em sua parte interior, onde fica protegida o canudinho que possui a tinta, estava escrito: “Há uma missão para qual você foi destinado, e só você saberá. Alguém irá precisar de você para descobrir a si mesmo, e você será essa passagem para a concretização de uma vida.” Incrível, mas, as palavras diziam a verdade, ele seria a ponte para a iniciação de um projeto que iria muito além do que ele poderia imaginar.

            Lucas Weter, conhecido como Luke, era uma garoto de cinco anos, mas não era como as outras crianças de sua idade. Lucas tinha autismo, uma doença mental que dificulta o convívio social e a aceitação das regras na sociedade. Apesar de ser filho único, seus pais nunca lhe mimaram demais ou o fizeram se sentir diferente. Naquele ano de 1999 ele iria iniciar sua vida escolar, e, para tentarem animar o filho que estava cabisbaixo a dias, seus pais, Dan e Loly, o levaram até a papelaria “Paper Dreams”, localizada no centro de Washington. Chegando ao local, tudo era novidade para Lucas, que vivia no norte da cidade e dificilmente saía de casa para ir a qualquer lugar. Na entrada, haviam balões enfeitando e fazendo um convite às crianças. Ao entrar, haviam dois caixas e apenas um corredor. Do lado direito, estavam empilhados cadernos, dicionários, pastas, fichários e arquivos derivados. Do lado esquerdo estava a parte colorida, repleta de canetas, hidrocores, lápis de cor, giz de cera e demais utensílios de pintura e escrita. No fim do corredor, a parede era enfeitada por uma folha de caderno gigante, repleta de desenhos e balões com falas. Uma em especial chamou a atenção de Luke, mas ele ainda não sabia ler, então seu pai lhe disse o que estava escrito: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.”. Aquilo chamou muito a atenção de Lucas, que foi andando com seus pais até o caixa, pensando no que aquela frase realmente significava. Quando chegou a hora de pagar pelas aquisições escolares, seu pai estava fazendo o cheque e Lucas disse: “Papai, não!”. Dan olhou assustado, pensando que algo havia acontecido, e, quando olhou para seu filho, viu que seus olhos brilhavam por uma embalagem que estava exposta. “É da coleção Colorful World, é a última que temos. Foi uma passada”, disse a atendente do caixa. Luke olhou para seu pai e ele entendeu que aquela caneta deveria ser do menino, assim sendo, comprou-a.

            Quando chegaram em casa, apesar de possuírem duas sacolas repletas de materiais, a primeira coisa que Luke foi pediu foi a “embalagem dos sonhos” – ela possuía algumas nuvens e estrelas, que, nas histórias contadas por sua mãe, remetem ao mundo mágico. Quando abriu, com todo o cuidado, a embalagem, havia dentro uma caneta esferográfica de cor verde, que resplandeceu aos olhos castanhos do garoto. Junto à caneta, estava um papel, que sua mãe leu. “Esta é a caneta Larry. Sua missão é colorir a vida de quem a possua. Ela é feita para ser usada de maneira inteligente, para criar sonhos e realizar aventuras.” Aquele trecho marcaria para sempre a vida de Luke e a existência de Larry. Quando sua mãe terminou de falar, o menino colocou o papel dobrado e a caneta de volta na embalagem e disse para sua mãe guardar, pois ele ainda não era inteligente o suficiente para usá-la. E assim foi feito.

            Larry estava em um canto da estante, em cima de um livro, no escuro, e  seu proprietário não lembrava dele havia anos. Sua missão era realizar sonhos, e ele esperava ansiosamente por esse momento. Esteve pensando todo esse tempo nas histórias que iria criar e nas coisas que poderia realizar para aquele garoto que ele não via há muito tempo. Para muitos, isso parece impossível, afinal, canetas não têm vida, elas não falam, não andam, não fazem nada, apenas escrevem quando são solicitadas. Mas há um engano: elas sentem. E por isso, Larry sabia quanto tempo ele estava parado, mas sabia também que isso significava que em breve realizaria algo enorme, essa era sua missão.

            Era uma tarde de outono, o ano era 2011, e Lucas Weter estava se formando no Ensino Médio. Seu pai já havia falecido há dois anos, mas Loly estava na primeira fila para prestigiar o filho. Após todas as comemorações, os dois foram para casa. Lucas estava com seu quarto bagunçado e decidiu organizá-lo. Ao tirar um caderno do primário da prateleira, algo colorido caiu de cima dele e fez um estalo no chão – era Larry. Lucas se lembrava muito bem da última vez em que a havia visto, e isso trouxe boas lembranças de seu saudoso pai. Luke pegou-a do chão e retirou-a da embalagem dos sonhos. Ele nunca havia a pego e sentido realmente. Larry tinha cerca de 20 centímetros. A ponta era 0.5, sua superfície era irregular – no início havia uma borracha para confortar a escrita, ela era em um tom verde mais escuro e possuía relevos em formato de bolinhas. Na parte de cima, seu aspecto era liso. O que realmente chamou a atenção do rapaz foi a parte interior – haviam várias palavras escritas, mas tão pequenas que só poderiam ser lidas com uma lente de aumento. Após admirá-la por alguns instantes, Luke pegou a embalagem e viu o bilhete que sua mãe havia lido 12 anos atrás. Após se formar no terceiro ano, o garoto ainda não sabia qual caminho seguir e o que fazer com o seu futuro – palavra que achava tão vasta e assustadora. Ele pegou a caneta de novo e avaliou se, agora, após tanto tempo, teria a inteligência necessária para utilizá-la da maneira certa.

            Larry sentiu um impacto. De repente, a embalagem foi aberta e Larry viu o rapaz que não via há anos. Ele continuava com olhos e cabelo escuros, mas havia crescido, com certeza. Larry adicionou ao seu interior a frase: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.” Ele havia ouvido Luke falar essa frase por vários anos e decidiu que quando fosse a hora, ela faria parte dos dois, essa seria sua grande conexão, e foi. Agora, faltava apenas fazer com que seu proprietário, e em breve amigo, percebesse a sua importância. Mas isso aconteceria logo, quando, finalmente, Larry se encontraria com uma textura diferente e que ele tanto sonhava – uma folha de papel.

            Já faziam algumas horas desde haviam voltado e Loly sentiu falta do filho. Ao subir no quarto dele, no segundo andar da residência, ela o viu sentado na escrivaninha, debruçado sobre uma folha de papel, discorrendo linha atrás de linha, palavra atrás de palavra, ideia atrás de ideia. Aquilo era uma novidade, então ela perguntou: “Querido, está inspirado?” e ele respondeu: “Pode parecer loucura mamãe, mas assim que peguei Larry tive uma excelente ideia e comecei a escrevê-la”. “A loucura é parte essencial do sucesso querido”, respondeu sua mãe, e saiu, fechando a porta atrás de si. Larry realmente era uma fonte de inspiração, ele e Luke se tornaram unidos, como se fossem apenas uma mente, os pensamentos coincidindo, as ideias fluindo loucamente, uma atrás da outra. Mas, espere. Pode uma caneta pensar? Oras. Claro que sim! Afinal, aquela não era apenas uma caneta – era uma companheira, uma confidente e uma amiga. Lucas, que sempre foi tão sozinho e recluso, conversava com Larry sobre tudo e, a cada nova conversa, uma nova ideia surgia. Daquele dia em diante, quem viu Luke, pode afirmar que ele estava diferente, e realmente estava. Ele não estava mais sozinho – seu companheiro o acompanhava aonde quer que fosse. Após muitas escritas e muitas tentativas de publicação, nada havia deslanchado. “É incrível, é como se a tinta fosse infinita”, pensava o jovem aspirante a escritor. Somente no ano de 2012, após sete meses decorridos em cima de uma ideia e muita conversa com Larry, houve a primeira centelha de sucesso – um livro chamado “A normalidade não é essencial para ser feliz”. O livro contava a história de um garoto autista e, em grande parte da história, Luke se baseou em sua vida – experiências boas e extremamente desagradáveis.

            Como sabia desde o dia em que fora fabricado, Larry agora podia afirmar que sua missão estava sendo cumprida, e da melhor e mais feliz maneira possível. Ele escrevia sobre sonhos impossíveis – ops, não mais. Nada mais podia ser dito como impossível. Agora que Luke sabia qual era seu dom e sua tarefa, seu amigo verde se sentia em dia com seu dever, mas não queria parar, cada vez dava mais e mais de si para continuar acompanhando o rapaz em sua jornada, ele ainda tinha muito caminho para percorrer e novas estradas para criar e descobrir.


            Após a ameaça de sucesso em 2012, em 2014 as coisas realmente começaram a acontecer. O livro de 585 páginas, intitulado “O Fantástico Mundo de Larry” havia sido publicado e se tornado um grande sucesso. O livro falava sobre a vida de um garoto comum que, no lugar mais inesperado, encontrou o valor da vida. Larry – a caneta amiga – teve sua última aparição na escrita desse sucesso. Sua tinta havia acabado, mas sua inspiração seguiu com Lucas por todos os anos e histórias. Nunca haveria alguém, ou alguma caneta como Larry, e por isso, ele ainda estava no bolso de Lucas – todos os dias, horas e minutos. Questionado por um de seus fãs sobre o que porque dele levar consigo uma caneta vazia, o escritor respondeu: “Esse é o Larry. Sua missão foi colorir minha vida. Ele foi feito para ser usado de maneira inteligente, e me ajudou a criar sonhos e realizar aventuras."

De onde surgiu o "Asas de uma leitora"?

"Asas de uma leitora"é o resultado de um desejo imenso. Sempre tive vontade de criar um blog, mas nunca soube sobre qual assunto gostaria de abordar. Em uma aula de redação jornalística, foi nos dada a tarefa de escrever um texto. O tema? Caneta. Sim, parece algo louco, e é. Mas que jornalista é são? Escrevi meu texto e me senti satisfeita com o resultado. A partir dessa satisfação surgiu a ideia de criar um blog. Se você se perguntar sobre qual assunto vou tratar, minha resposta será: todos. O mundo é um processo contínuo de transformações e revoluções, e eu já aprendi a muito tempo que nada deve permanecer o mesmo por um longo período, ainda mais quando somos escravos eternos do que sentimos e pensamos - e isso são coisas que mudam a todo instante. O processo de descobrimento e conhecimento nunca pausa, nunca para, e eu não desejo que se torne permanente algum dia.

A escolha do título


Quando se decide algo em cima da hora, as coisas obviamente não aparecem prontas e perfeitas em nosso pensamento. Estava ouvindo a música "Bigger Than My Body", do cantor John Mayer e o título apareceu de relance. Como estava tentando criar algo diferente e minha inspiração é - além da leitura - a música, "Asas de uma leitora" me soou perfeito, visto que, sou fã do mundo da imaginação - apesar de manter minha apreciação pelas histórias reais, principalmente nas quais há relatos históricos de sobreviventes ou uma história geral sobre o início e o crescimento de algum país ou local. Mas, para qualquer leitor fará sentido o que escreverei a seguir: em um mundo normal, se você não tem asas, não sai do lugar. Apenas caminhar e criar raíz já não basta.