sexta-feira, 9 de maio de 2014

Os dois lados da perspectiva

"Mesmo um ateu convicto, em seu último suspiro busca acreditar em algum paraíso, afinal, a vida não pode ser simplesmente alguns anos e fim. Ela deve ter alguma continuidade, seja onde for e da maneira que for. Se os filósofos apontam que nada se perde, tudo se transforma e os fiéis professam que há algo para se esperar além da vida, como devemos encarar qualquer fim?" E foi assim que Lara terminou de escrever em seu diário naquela escura, fria e embaçada noite de março. Sua vida não estava nem perto de chegar ao final, ao menos, era o que previa. Entretanto, faltava muito para ser descoberto e vivenciado.

Um dia de chuva para ficar embaixo do guarda-chuva e fugindo dos pingos pode ser um dia para se molhar e dar um "banho na alma", como costumam falar. Tudo é um reflexo da sua maneira de encarar as coisas. O dia de ontem foi similar ao de anteontem, e esse ao dia anterior, que será igual ao dia de hoje. Confuso? As pessoas costumam simplificar e nomear esse processo de: rotina. Aquilo que se faz repetidas vezes, nos mesmos momentos, nos mesmos lugares e com as mesmas pessoas. Lara não achava que poderia encarar todos os dias de sua vida assim, apesar de já estar fazendo isso há 21 anos. A rotina muda conforme as exigências do tempo, e sobre ele não temos o controle de avançar ou acelerar, mas temos o poder de escolher o que fazer com o seu uso.

Houve o dia em que uma garota acordou e decidiu fazer tudo diferente. No outro dia fez o mesmo, e no dia seguinte também. Mas, cuidado ao interpretar esse "tudo". O tudo de alguém pode ser o que tem, o que quer ou seus pensamentos. Há de se lembrar que, quando mudamos nossa maneira de encarar as coisas, elas mudam, e nós também. Afinal, será que mudar "tudo" é tão difícil assim? Ou serão somente a grande maioria das pessoas que não buscam viver cada dia após ter quase perdido a vida? Que se importam em demonstrar o que sentem quando perdem aquele que amam? Que buscam realizar seus sonhos quando estão no último estágio, como uma forma de encarar que sua vida valeu a pena nos últimos segundos?

Se apegar a Deus quando tudo está perdido poderá te salvar, mas não irá fazer com que você não se reprove por ter feito as coisas do jeito que fez. Fazer alguém feliz no último instante vai realmente revelar um sorriso, mas será mais de alívio do que surpresa e gratidão. Ir no show da sua vida na última oportunidade irá realizar seu sonho, mas não deixará de fazer com que você veja quantas vezes poderia ter aproveitado aquele momento. É essa mania de deixar as coisas mais importantes por último que acaba com a graça toda. Torna tudo uma tentativa desesperada de fazer com que aquilo que você sonhou durante toda a sua vida e as coisas pelas quais lutou mostrem seu valor no acréscimo, mas, se é assim, o que você fez nos últimos 45 minutos?