terça-feira, 10 de junho de 2014

Tecendo suposições

- E como você tem passado nas últimas semanas? - Eu simplesmente precisava saber.

"Que pergunta estupidamente calculada" pensei comigo. O que será que ele espera que eu responda? O que será que eu respondo? Já não paro para pensar como me sinto há dias, e provavelmente não terei capacidade para lidar com isso agora. Não aqui, de frente com ele. Seus olhos me fitando e sua face imóvel, tipicamente absorto em pensamentos, pronto para ser despertado pela minha resposta. 

- Não sei. - Sim, eu respondi exatamente isso. Era o que eu tinha para expressar no momento. Sou um turbilhão de sentimentos interrompidos. Alguns se sentem renegados e afugentados pela angústia, outros acreditam que devem lutar para serem recompensados. Nesse duelo, tenho perdido noites e dias, sono e fome. Já não posso ser a pessoa que tinha confiança em seu amor próprio. Como poderia? Nesse mix de confusão que ofusca minha lógica. Hora insensível, hora dramática. Ainda ontem havia decidido desligar todo esse lado emocional, desconectar de lembranças que poderiam me afligir novamente. Ainda ontem...

- Hm... bom, você parece bem. - Mas que droga! Como ela parece serena. Como ela consegue? Tenho certeza de que já não pensa mais em mim, e não posso culpá-la, eu também não queria pensar mais nela. Mas, cada vez que ela pisca os olhos, tenho medo que desvie. De mim. De nós. E se ela já não me sente mais como parte dela, por que ainda sinto que estamos tão próximos?

- Bem. É, parece ser essa a palavra para o momento. - Foi o máximo que consegui me concentrar para responder. Talvez eu esteja bem, talvez eu tenha conseguido me desligar. Ele soa tão indiferente à minha indiferença. Então por que não sinto que estamos realmente desconectados de nossas lembranças?

- Preciso ir. Espero poder encontrá-la mais vezes. - Sim. Foi essa a frase que escolhi para me despedir, meu adeus e meu desejo.

- Eu também. - A educação falou mais alto aqui. Não sabia se realmente desejava isso. Não gosto de incomodar meu desligamento com faíscas de esperança. 

Então, cada um virou para um lado. Seguiram separados, cada qual com suas suposições e tecendo ideias vãs a respeito daqueles minutos. É difícil dizer quando ou se chegaram a se ver novamente. Encontraram novos sentimentos em novas pessoas e foram felizes assim. A realidade é que a separação física maltrata suas vítimas a tal ponto onde é preferível pensar que acabou e não há volta. E, enquanto essa separação durar, as suposições duram com ela. Mas às vezes basta um encontro de olhares para remexer aquele passado. E por isso sentimentos são tão difíceis de lidar, porque insistem em sobreviver a toda e qualquer distância, suportando longos períodos de separação só para terem o prazer de serem revividos vez e outra.

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