quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Fantástico Mundo de Larry

Como foi a principal fonte de inspiração - além da minha mãe - para criar o blog, nada mais justo que ter como primeiro post a história de Larry, uma caneta com uma missão e um significado muito maior do que o mundo tradicional poderia compreender. A linha de pensamento foi inspirada na aula de redação, que tinha como tema: caneta. As melhores ideias resultam das circunstâncias mais loucas e inusitadas :)


O Fantástico Mundo de Larry

            Em 1999, nos Estados Unidos da América, no estado da Pensilvânia, na cidade de Washington, havia uma fábrica de canetas chamada “Pen For Fun!”. Em janeiro daquele ano, em homenagem aos 140 anos da cidade, a fábrica fez uma coleção de canetas nomeada “Colorful World” – todas possuíam o emblema do município. A coleção era tão especial que foram criadas apenas 80 canetas, sendo que cada conjunto de dez possuía uma cor diferente, que variavam entre roxo, rosa, verde, azul, preto, cinza, vermelho e laranja. Após concluir a coleção, foram enviadas uma de cada cor para cada papelaria da cidade. As embalagens era individuais e cobriam a caneta inteira, sendo assim, era impossível saber qual cor havia sido escolhida até que o papel fosse rasgado.

            Cada caneta possuía um nome, e, uma em particular, foi batizada como “Larry”. Assim como todas as outras canetas, Larry foi destinado para um centro de comercialização de materiais escolares, mas seu destino seria muito diferente das outras. A partir do momento em que há um valor, nada é algo – tudo se torna importante e significante. No seu material, em sua parte interior, onde fica protegida o canudinho que possui a tinta, estava escrito: “Há uma missão para qual você foi destinado, e só você saberá. Alguém irá precisar de você para descobrir a si mesmo, e você será essa passagem para a concretização de uma vida.” Incrível, mas, as palavras diziam a verdade, ele seria a ponte para a iniciação de um projeto que iria muito além do que ele poderia imaginar.

            Lucas Weter, conhecido como Luke, era uma garoto de cinco anos, mas não era como as outras crianças de sua idade. Lucas tinha autismo, uma doença mental que dificulta o convívio social e a aceitação das regras na sociedade. Apesar de ser filho único, seus pais nunca lhe mimaram demais ou o fizeram se sentir diferente. Naquele ano de 1999 ele iria iniciar sua vida escolar, e, para tentarem animar o filho que estava cabisbaixo a dias, seus pais, Dan e Loly, o levaram até a papelaria “Paper Dreams”, localizada no centro de Washington. Chegando ao local, tudo era novidade para Lucas, que vivia no norte da cidade e dificilmente saía de casa para ir a qualquer lugar. Na entrada, haviam balões enfeitando e fazendo um convite às crianças. Ao entrar, haviam dois caixas e apenas um corredor. Do lado direito, estavam empilhados cadernos, dicionários, pastas, fichários e arquivos derivados. Do lado esquerdo estava a parte colorida, repleta de canetas, hidrocores, lápis de cor, giz de cera e demais utensílios de pintura e escrita. No fim do corredor, a parede era enfeitada por uma folha de caderno gigante, repleta de desenhos e balões com falas. Uma em especial chamou a atenção de Luke, mas ele ainda não sabia ler, então seu pai lhe disse o que estava escrito: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.”. Aquilo chamou muito a atenção de Lucas, que foi andando com seus pais até o caixa, pensando no que aquela frase realmente significava. Quando chegou a hora de pagar pelas aquisições escolares, seu pai estava fazendo o cheque e Lucas disse: “Papai, não!”. Dan olhou assustado, pensando que algo havia acontecido, e, quando olhou para seu filho, viu que seus olhos brilhavam por uma embalagem que estava exposta. “É da coleção Colorful World, é a última que temos. Foi uma passada”, disse a atendente do caixa. Luke olhou para seu pai e ele entendeu que aquela caneta deveria ser do menino, assim sendo, comprou-a.

            Quando chegaram em casa, apesar de possuírem duas sacolas repletas de materiais, a primeira coisa que Luke foi pediu foi a “embalagem dos sonhos” – ela possuía algumas nuvens e estrelas, que, nas histórias contadas por sua mãe, remetem ao mundo mágico. Quando abriu, com todo o cuidado, a embalagem, havia dentro uma caneta esferográfica de cor verde, que resplandeceu aos olhos castanhos do garoto. Junto à caneta, estava um papel, que sua mãe leu. “Esta é a caneta Larry. Sua missão é colorir a vida de quem a possua. Ela é feita para ser usada de maneira inteligente, para criar sonhos e realizar aventuras.” Aquele trecho marcaria para sempre a vida de Luke e a existência de Larry. Quando sua mãe terminou de falar, o menino colocou o papel dobrado e a caneta de volta na embalagem e disse para sua mãe guardar, pois ele ainda não era inteligente o suficiente para usá-la. E assim foi feito.

            Larry estava em um canto da estante, em cima de um livro, no escuro, e  seu proprietário não lembrava dele havia anos. Sua missão era realizar sonhos, e ele esperava ansiosamente por esse momento. Esteve pensando todo esse tempo nas histórias que iria criar e nas coisas que poderia realizar para aquele garoto que ele não via há muito tempo. Para muitos, isso parece impossível, afinal, canetas não têm vida, elas não falam, não andam, não fazem nada, apenas escrevem quando são solicitadas. Mas há um engano: elas sentem. E por isso, Larry sabia quanto tempo ele estava parado, mas sabia também que isso significava que em breve realizaria algo enorme, essa era sua missão.

            Era uma tarde de outono, o ano era 2011, e Lucas Weter estava se formando no Ensino Médio. Seu pai já havia falecido há dois anos, mas Loly estava na primeira fila para prestigiar o filho. Após todas as comemorações, os dois foram para casa. Lucas estava com seu quarto bagunçado e decidiu organizá-lo. Ao tirar um caderno do primário da prateleira, algo colorido caiu de cima dele e fez um estalo no chão – era Larry. Lucas se lembrava muito bem da última vez em que a havia visto, e isso trouxe boas lembranças de seu saudoso pai. Luke pegou-a do chão e retirou-a da embalagem dos sonhos. Ele nunca havia a pego e sentido realmente. Larry tinha cerca de 20 centímetros. A ponta era 0.5, sua superfície era irregular – no início havia uma borracha para confortar a escrita, ela era em um tom verde mais escuro e possuía relevos em formato de bolinhas. Na parte de cima, seu aspecto era liso. O que realmente chamou a atenção do rapaz foi a parte interior – haviam várias palavras escritas, mas tão pequenas que só poderiam ser lidas com uma lente de aumento. Após admirá-la por alguns instantes, Luke pegou a embalagem e viu o bilhete que sua mãe havia lido 12 anos atrás. Após se formar no terceiro ano, o garoto ainda não sabia qual caminho seguir e o que fazer com o seu futuro – palavra que achava tão vasta e assustadora. Ele pegou a caneta de novo e avaliou se, agora, após tanto tempo, teria a inteligência necessária para utilizá-la da maneira certa.

            Larry sentiu um impacto. De repente, a embalagem foi aberta e Larry viu o rapaz que não via há anos. Ele continuava com olhos e cabelo escuros, mas havia crescido, com certeza. Larry adicionou ao seu interior a frase: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.” Ele havia ouvido Luke falar essa frase por vários anos e decidiu que quando fosse a hora, ela faria parte dos dois, essa seria sua grande conexão, e foi. Agora, faltava apenas fazer com que seu proprietário, e em breve amigo, percebesse a sua importância. Mas isso aconteceria logo, quando, finalmente, Larry se encontraria com uma textura diferente e que ele tanto sonhava – uma folha de papel.

            Já faziam algumas horas desde haviam voltado e Loly sentiu falta do filho. Ao subir no quarto dele, no segundo andar da residência, ela o viu sentado na escrivaninha, debruçado sobre uma folha de papel, discorrendo linha atrás de linha, palavra atrás de palavra, ideia atrás de ideia. Aquilo era uma novidade, então ela perguntou: “Querido, está inspirado?” e ele respondeu: “Pode parecer loucura mamãe, mas assim que peguei Larry tive uma excelente ideia e comecei a escrevê-la”. “A loucura é parte essencial do sucesso querido”, respondeu sua mãe, e saiu, fechando a porta atrás de si. Larry realmente era uma fonte de inspiração, ele e Luke se tornaram unidos, como se fossem apenas uma mente, os pensamentos coincidindo, as ideias fluindo loucamente, uma atrás da outra. Mas, espere. Pode uma caneta pensar? Oras. Claro que sim! Afinal, aquela não era apenas uma caneta – era uma companheira, uma confidente e uma amiga. Lucas, que sempre foi tão sozinho e recluso, conversava com Larry sobre tudo e, a cada nova conversa, uma nova ideia surgia. Daquele dia em diante, quem viu Luke, pode afirmar que ele estava diferente, e realmente estava. Ele não estava mais sozinho – seu companheiro o acompanhava aonde quer que fosse. Após muitas escritas e muitas tentativas de publicação, nada havia deslanchado. “É incrível, é como se a tinta fosse infinita”, pensava o jovem aspirante a escritor. Somente no ano de 2012, após sete meses decorridos em cima de uma ideia e muita conversa com Larry, houve a primeira centelha de sucesso – um livro chamado “A normalidade não é essencial para ser feliz”. O livro contava a história de um garoto autista e, em grande parte da história, Luke se baseou em sua vida – experiências boas e extremamente desagradáveis.

            Como sabia desde o dia em que fora fabricado, Larry agora podia afirmar que sua missão estava sendo cumprida, e da melhor e mais feliz maneira possível. Ele escrevia sobre sonhos impossíveis – ops, não mais. Nada mais podia ser dito como impossível. Agora que Luke sabia qual era seu dom e sua tarefa, seu amigo verde se sentia em dia com seu dever, mas não queria parar, cada vez dava mais e mais de si para continuar acompanhando o rapaz em sua jornada, ele ainda tinha muito caminho para percorrer e novas estradas para criar e descobrir.


            Após a ameaça de sucesso em 2012, em 2014 as coisas realmente começaram a acontecer. O livro de 585 páginas, intitulado “O Fantástico Mundo de Larry” havia sido publicado e se tornado um grande sucesso. O livro falava sobre a vida de um garoto comum que, no lugar mais inesperado, encontrou o valor da vida. Larry – a caneta amiga – teve sua última aparição na escrita desse sucesso. Sua tinta havia acabado, mas sua inspiração seguiu com Lucas por todos os anos e histórias. Nunca haveria alguém, ou alguma caneta como Larry, e por isso, ele ainda estava no bolso de Lucas – todos os dias, horas e minutos. Questionado por um de seus fãs sobre o que porque dele levar consigo uma caneta vazia, o escritor respondeu: “Esse é o Larry. Sua missão foi colorir minha vida. Ele foi feito para ser usado de maneira inteligente, e me ajudou a criar sonhos e realizar aventuras."

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