segunda-feira, 30 de junho de 2014

Egocentrismo: um círculo vicioso

“Agora não”. Com que frequência você ouve essa frase? E quantas vezes por dia você a diz? Essa é a característica principal da atualidade: o egocentrismo. Culpa-se a falta de tempo, o que é apenas um reflexo da impaciência – algo que as pessoas deixaram de lado e não se preocupam em melhorar já faz algum tempo. A negação a um favor ou um pedido, seja o mais simples, se torna mais fácil e viável do que reservar um tempo para outras atividades ou afazeres que façam você se desprender da rotina. Então, até aqui, é possível concluir que a culpa é nossa – mas apenas em partes.



As modificações tecnológicas influenciaram não apenas no avanço, mas nas prioridades humanas – há mais meios para obter melhores resultados, logo, a exigência cresce proporcionalmente. Como consequência, a realização pessoal se tornou fator decisivo para alcançar bons resultados, e, em um mundo competitivo – de maneira não saudável – essa realização exige mais do que dedicação; exige abdicar. Pais que abdicam de passar tempo com a família para adiantar trabalhos que levam para casa; mães que se esforçam para serem a melhor que podem e acabam se deixando de lado, se entregando para todos os tipos de exaustões e doenças psicológicas; filhos que são influenciados pelos pais a estudar e buscar ser alguém que faça diferença, que desde o momento em que entram na escola são colocados em cinco ou seis atividades para desenvolver mais de uma habilidade – e acabam esquecendo, ou nem mesmo aprendendo a essência do que é ser criança. Garotas que buscam a independência o quanto antes, loucas para se aventurar em um mundo governado por si antes mesmo de aprender como fazê-lo; rapazes que conquistam o máximo que podem para, primeiro, aproveitar tudo e exibir suas conquistas.

Casamentos se tornaram apostas no que se refere a durabilidade. Traições já não são mais um problema, desestrutura familiar deixou de ser algo assustador. Famílias perdem a essência da união, dos almoços de domingo, dos almoços nos dias de semana, das conversas abertas. Foram construídos muros que parecem já vir com cada pessoa, e, ao se unirem, invés de destruí-los, acabam juntando-os. Vivem juntos, mas pensam e sentem separados. A realidade é que, a partir do momento em que o ser humano se viu livre para fazer suas escolhas, ao mesmo tempo percebeu que essa liberdade lhes dava opções diferentes, mas todas iam para o mesmo caminho.

  

As evoluções continuarão acontecendo e as pessoas precisam aprender a viver com elas e não para elas – é preciso que não se deixam mais dominar. Seres humanos precisam reviver sua humanidade e sua essência. Precisa aprender a se compreender antes de esperar que alguém os compreenda, ou que algum remédio os torne pessoas mais felizes. Dependências precisam ser deixadas de lado para que descobertas mais importantes possam ser feitas. A partir do momento onde o dinheiro compra paz, sono, 'saúde' ou satisfação, já não há mais um sentimento ou motivo verdadeiro para se estar aqui. Ninguém trilha passos e faz buscas sem o autoconhecimento. As amarras foram criadas pelas próprias vítimas, agora presas em suas dependência esdrúxulas e cegas para as necessidades do ser e sentir. Como você vai enxergar aquilo que precisa se coloca à sua frente aquilo que apenas quer? A idealização do que se é precisa ser mais importante do que o convencimento daquilo que se quer ser. Não se deixe submergir por satisfações ilusórias, elas nunca suprirão o que você realmente precisa.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Resenha do livro 'Ensaio sobre a cegueira', de José Saramago

Deixei de lado meu receio pela leitura brasileira e comprei o livro de José Saramago, o qual já havia ouvido falar e lido excelentes críticas. Essa foi uma aquisição feita após perambular uma hora pela livraria sem me interessar por absolutamente nenhum livro (algo que dificilmente acontece, depois de meia hora já tenho três ou quatro nas mãos e quero todos). Pois bem, escolhi o livro e fui para o caixa. Como todo leitor fanático, abri ele, admirei e senti aquele aroma inigualável de livro novo. No dia seguinte comecei a ler, e finalmente entendi sobre do que se tratava uma leitura pesada.

Nesse livro não existem travessões para as falas, elas iniciam em meio a narrativa do escritor. Normalmente iniciam com letra maiúscula após uma vírgula e assim sucessivamente. Não é necessariamente algo fácil se adaptar a um novo estilo, até mesmo porque esse em especial exige cem por cento da atenção do leitor. Não pode haver barulho algum, nada - absolutamente nada - que o distraia. A mente em si não pode se perder muito nos acontecimentos e pensamentos sobre, pois acaba confundindo as informações relatadas em seguida. Apesar de todo o esforço necessário para esvaziar totalmente a mente e ficar recluso de qualquer contato social, a leitura valeu muito a pena. A frase de abertura do livro já me garantiu que a narração seria algo inovador no meu campo de conhecimento literário.




O diferencial de Saramago

Nessa obra de Saramago não existem nomes. Os personagens principais são: o cego, a mulher do primeiro cego, o médico ou doutor, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o homem com venda preta e o rapazinho estrábico. Foi outro aspecto que achei interessante, porém, de alguma maneira, facilitou a leitura. A questão de usar nomeações e deixar de lado o nome da pessoa foi o que tornou a história do livro tão envolvente, como se transmitisse a mensagem de que não importa quem seja aquela pessoa, ela passa pela mesma situação e enfrenta o mesmo problema. em um mundo de cegos, não há identidade ou diferença. Saramago retirou os títulos e honrarias de qualquer personagem, apresentando-o como uma pessoa normal com suas reações e seu caráter verdadeiro em meio a uma situação impensável e aterrorizante.


Uma história surpreendentemente aterrorizante

Na primeira página do livro, o mix de mistério de drama já começa. Há um homem que está parado no semáforo, observando a luz vermelha e esperando-a ficar verde para poder avançar. De repente, tudo fica branco. Como o escritoe relata diversas vezes na história, "apenas via uma nuvem branca". Nesses momentos os carros que estão atrás começam a buzinar incansavelmente e as pessoas, algumas nervosas e outras preocupadas, vêm até o encontro daquele motorista para saber o que aconteceu. "Estou cego", ele diz. Nesse instante, apesar de sentir medo e aflição, ele é acudido por almas caridosas, que se sentem preocupadas e quem ajudá-lo. Entretanto, foi a partir da declaração feita pelo personagem inicial que a história desencadeou de maneira surpreendente. Aquele homem que ficou cego sem motivo aparente relata o caso para sua esposa, e ambos vão procurar um oftalmologista. Nem o médico dos olhos e nem mesmo Saramago nos satisfaz com a explicação do porque essa cegueira repentina apareceu, e durante o livro você acaba se perguntando se é um castigo ou alguma prova, se está relacionado a Deus ou se as próprias pessoas são causadoras desse mal.

Nem mesmo a primeira vítima ou seus amparadores sabiam que aquela cegueira era contagiosa. O fato que ocorreu em seguida foi que todas as pessoas que tiveram alguma aproximação com o motorista cego acabaram cegando, e assim sucessivamente, até que quase todas as pessoas, no mundo inteiro, perderam sua visão - o mudo era agora uma nuvem branca. Digo quase todas porque - e essa é a personagem que dá o desenrolar de grande parte da história - a mulher do médico parece ser a única exceção à medonha epidemia de cegueira, o que no começo parece ser uma vantagem - olhos em um mundo cego. Entretanto, é durante a leitura que se percebe o quão difícil é carregar o fardo de enxergar todas as falhas humanas, o que faz com que a personagem diversas vezes deseje ter o mesmo destino dos demais.

No início, da epidemia, quando o desespero toma conta do governo e das demais pessoas, as autoridades trancafiam um grupo contagiado - os personagens citados anteriormente - em um manicômio, onde a sua sorte foi ter como guia a mulher do médico, que mentiu para os demais afirmando que estava cega, afinal, não poderia abandonar seu marido nessa situação. Ela esconde de todos - menos de seu companheiro - que não foi atingida pelo contágio, buscando conhecer e tentando auxiliar o máximo possível as pessoas que estão naquela situação desagradável, sendo tratadas como uma doença fatal, em um lugar repleto de escadas, sem água ou um banheiro decente.

O legado da nuvem branca

Conforme o tempo passa, chegam mais e mais vítimas da cegueira ao manicômio, até que a capacidade máxima lota o ambiente. A ração - como chamam a comida que recebem - começa a faltar e, em meio a mais de duzentas pessoas, o verdadeiro - e na maior parte das vezes mau - caráter brota e atinge a todos. Alguns se unem para se ajudar, outros, para prejudicar os demais. Nessa luta cega pelo ego e orgulho, vidas são ceifadas, traições são cometidas, abusos de todos os tipos são sofridos. É uma leitura dura, e digo isso no sentido total da palavra, onde as frases irão atingir você de tal forma na qual se sentirá obrigado a absorver aquilo como uma verdade do mundo, e não apenas de uma história ficcional - por pior que seja. Uma leitura que irá fazer nascer sentimentos de revolta, angústia, raiva, nojo, emoção e amor que, ao final do livro, serão unidos e trarão ao leitor uma nova perspectiva sobre a vida ao seu redor, ou melhor, sobre as pessoas que o rodeiam. Um livro que faz você pensar, "e se isso acontecesse comigo agora mesmo? Qual dessas personagens eu me tornaria?"

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Quando o destino dá uma segunda chance

Silêncio absoluto. Laurie abria seus olhos devagar, tentando de acostumar com a claridade que invadia cada canto do cômodo – ao qual ela nunca havia lembrado de ter visto. Sua cabeça latejava, e, em meio ao silêncio sepulcral no qual se encontrava, suas memórias gritavam incessantemente. “Parem. Me deixem em paz!”, ela ordenava aos seus pensamentos. Após 15 minutos, ela conseguiu lidar com aquela situação e tentou se situar. “Aonde diabos estou?”, pensou consigo.

- Marty? Marty, onde você está? – ela falou, alto o suficiente para que qualquer pessoa que estivesse por perto a ouvisse. Não havia ninguém. “Não vou deixar que você tome conta de mim”, ela bradava contra o desespero. De fato, ela precisava urgentemente de sua sanidade naquele momento, caso contrário, estaria perdida – como outras pessoas estavam.

- Tem alguém aí? Por favor, não sei como vim parar aqui – disse. Nesse momento, quando já havia passado cerca de uma hora desde que acordou, sentiu dor no braço. Estava formigando, assim como todo o seu corpo. A sensação não era nada agradável e estava deixando-a perturbada, além de psicologicamente exausta.

Tentando deixar essa sensação de lado, levantou e foi dando passos lentos em direção a porta de saída, ela respirou fundo duas vezes e a abriu. A cena era devastadora. Haviam chamas quase apagadas, crateras, árvores com folhagem morta, um cheiro de excreto insuportável. “Meu Deus”, ela suspirou.

- E o que Deus tem a ver com isso, Laurie MacCwood? – disse o homem que estava do outro lado da rua, mas que ela jurava que não estar ali há um minuto atrás.

- Q-quem é você? – gaguejou a garota. Estava amedrontada e, convenhamos, tinha seus motivos.

- Estamos em lugar nenhum. Absolutamente do meio do nada. As únicas pessoas que você verá aqui perderam sua sanidade há anos e jamais saberão quem você é, e você está preocupada com quem EU sou? – o homem misterioso deu ênfase ao falar de si, e perguntou algo que a deixou sem palavras - Talvez a pergunta seja, quem é você nesse mundo sombrio? Por que está aqui?

Laurie não sabia. Sua mente tentou ao máximo recordar o que havia vivido nas últimas horas. Havia chego em casa, subido, tomado banho e ido deitar. E então, por algum motivo que aparentemente não envolvia Deus, ela acordou ali.

- Difícil não é? Bem, talvez devêssemos voltar um pouco no tempo. Vou ajudar você – e ele deu um sorriso malicioso – há algo que você tenha feito para que mereça estar aqui?

Laurie se sobressaltou.

- Não tenho a mínima ideia de quem é você. Como ousa querer saber algo da minha vida, se nem ao menos nome você tem? – gritou a garota.

- Ora, ora. Não leio pensamentos senhorita MacCwood, mas, já que pediu com tanta delicadeza, lhe respondo. Meu nome é Gabriel, e estou aqui para tentar lhe mostrar a real pessoa que você é.

“Gabriel? Anjo Gabriel? Não Laurie, não seja louca!”, pensou ela, achando estar perdendo sua sanidade apenas por cogitar aquela ideia de que anjos existissem, e jurou que Gabriel estava sorrindo naquele momento.

- Não fiz nada para merecer estar aqui. Quero voltar para o lugar aonde pertenço – disse Laurie, em tom desafiador.

- Mas você está em um lugar ao qual pertence. Bom, você está no lugar ao qual merecerá pertencer, e não me olhe braba, isso é mérito seu – disse o homem que, apesar de possuir um nome, continuava a possuir um ar misterioso.

- Um lugar ao qual vou me fazer pertencer? Você por acaso veio do futuro? – ela estava realmente perdendo a paciência.

- Não. Veja bem, estou tentando ajudá-la. 

- Me ajudar?! Você não me conhece, como acha que pode me ajudar?

- Doce Laurie – disse Gabriel, com uma voz atenciosa – desde pequena, sempre apegada aos pais. Cresceu, sofreu perdas irreparáveis. A dor devastou seu coração e tirou sua razão. Conheceu um novo mundo, tão escuro e sombrio, mas se entregou a ele. Chora todas as noites procurando consolo, roga por Deus, mas prefere ir ao encontro do diabo...

Laurie ficou atônica. “Como ele sabe disso? Nunca contei para ninguém. Nunca chorei alto. Nunca compartilhei o que sinto”, pensou em uma fração de segundo. Seu sangue corria rápido em suas veias, seu coração acelerava, seus pensamentos dançavam e se misturavam. A confusão era total.

- Como você sabe disso? – ela havia abaixado o tom de voz, e, como uma típica pessoa confusa, estava olhando para baixo, mas não enxergava nada.

- Você não está focando no importante. A pergunta que merece resposta é: será que vale a pena continuar com isso?

Para melhor compreender o rumo que a história irá tomar, cabe aqui uma breve explicação, mas necessária para o entendimento alheio. Laurie havia perdido seu pai em um acidente de carro. Ela era filha única e viu sua mãe aos poucos se entregar para a loucura, a qual obrigou-a a internar a única pessoa que amava em um sanatório, pensando estar cumprindo seu papel de boa filha. Seus tios haviam oferecido sua casa para ela passar um tempo, mas ela descobriu o quão aproveitadores eles eram e saiu de lá o mais depressa possível. Conheceu Lilie, e com ela, as drogas. Se entregou a todo tipo de vício. Largou os estudos. Trabalhava como garçonete para pagar a pensão do barraco onde morava e havia entrado no mundo da prostituição. Agora, com a explicação dada, retornemos aos acontecimentos seguintes.

- Eu não tive escolha – ela sussurrou.

- Você teve escolha, mas escolheu o caminho mais simples. E ele muitas vezes pode ser o mais fácil para percorrer, mas a dor não vale a pena. Ou vale? – perguntou Gabriel.

- Não. Mas agora está feito. Não há que eu possa fazer para modificar minhas atitudes – contornava a garota.

- Apenas aquelas que você já tomou. E quanto as que irá tomar? – indagou o homem.

- As que irei tomar? Que decisão você acha que eu vou ter que tomar nesse fim de mundo? – perguntou Laurie, se irritando novamente.

- Esse fim de mundo vai ser o seu fim. Você estará destinada a viver vagando em meio a essas pessoas insanas pelo resto de sua eternidade – bradou Gabriel.

- Não. Não. Eu vou ficar louca! Se já não estou... – e se interrompeu.

- Cada pessoa no mundo possui uma história. Ao fim de cada vida, diferente do que contam nessas estórias que passam de boca em boca, mas nunca provam ter fundamento, cada uma é destinada para um mundo – aquele que construiu – disse ele. 

- Mas eu não construí esse mundo destruído – ela disse, mas no fundo, soava como uma indagação.

- Nenhuma das pessoas que está aqui acha que o fez. Mas no fundo, acabaram enlouquecendo por descobrirem que merecem estar aqui – respondeu Gabriel.

- C-cada uma das pessoas que está aqui já morreu? Então eu morri? – e o corpo dela tremeu.

- Não, ainda não. Embora, com a vida que leva, talvez não demore muito. Mas, existe algo chamado ‘segunda chance’. É o que tento dar para cada ser humano. Tento lhe mostrar a que lugar irá pertencer e, se ele me escutar, terá um destino totalmente diferente. Mas, aqueles que decidiram achar isso uma bobagem, bom... são pessoas condenadas a própria loucura – as palavras dele foram um golpe nela.

Laurie estava assustada, como nunca estivera em toda a sua vida. Ela repensou cada passo que havia dado para o caminho errado depois que internou sua mãe, e lembrou há quanto tempo não ia visita-la. Após alguns instantes, ela disse:

- Já não sei qual é o sentido da vida para mim. Talvez eu deva pertencer a esse lugar.

- O sentido da vida é um só: viver. Como você o utiliza é o que faz toda a diferença.

“O que faz sentido aqui? Provavelmente nada! Já não faço mais sentido mesmo...”, e nesse momento, Gabriel disse:

- Mas pode fazer.

- Ei, você disse que não podia ler pensamento.

- A menos que eu não queira. Mas você fala muito pouco e está me deixando incomodado com esse silêncio. Uma pequena interrupção em um pensamento tão desconexo não vai piorar sua situação.

- Obrigada por admitir que ela está horrível.

- Mais uma vez, isso fica a seu critério.

De muitas formas, Gabriel a irritava, mas no fundo, ela entendia o que ele queria dizer e não protestava mais.

- Ok. Há um mundo melhor, repleto de flores e alegria. Como eu faço para conseguir ele?

- Quatro suposições ilusórias. Não há um mundo melhor, há uma eternidade melhor. Você não consegue, você vive para alcancá-lo. Não é repleto de flores e alegria, mas de pessoas como seu pai, que estão lá aguardando o reencontro. E, por fim, não é como você faz, mas como você vive.

- Meu pai? – essa era a única parte de todo o comentário que havia atraído a atenção dela.

- Sim. Ele está lá. E posso garantir que espera você, assim como espera sua mãe, que logo deve estar chegando.

Uma lágrima caiu do olho direito da menina. Naquele momento, ela desejou mais do que tudo uma segunda chance, que Gabriel desse a ela a oportunidade de se reencontrar e viver com seus pais – o desejo que ela mais nutria em seu coração.

Não foi preciso mais nada. Já ouviram ou leram como atos de fé sinceros são atendidos? E esse foi. Laurie acordou em seu quarto, o qual dividia com mais cinco garotas que tinham o mesmo estilo de vida que ela. Entendeu enfim que aquela havia sido sua segunda chance – e que não há terceira. Se ela conseguiu alcançar o seu objetivo ou não, ficou ao seu próprio encargo, da mesma maneira que fica ao meu ao seu chegar aonde se deseja. A realidade é que cada um vive a vida que quer, destinando-se ao futuro que merece. Mas o futuro, para muitos, é apenas algo que não faz sentido exigir preocupação, mas, quando ele chega de repente, qualquer um se assusta e amedronta com aquilo que vê. E você, o que você anda fazendo com o sentido da vida? Que tal uma viagem ao futuro?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quando não se pode parar...

O mundo estava embaçado. Embaraçado. As pessoas estavam confusas, pareciam não saber nem ao menos quem eram ou porque estavam ali. As ruas estavam desertas e folhas dançavam a melodia que o vento trazia. Árvores que antes forneciam sombra e frescor, agora pareciam tristes, incapazes de manter sua folhagem viva. O ar estava pesado, tornando a gravidade quase insuportável. Mas aquilo nada mais era do que um reflexo dela - do que sentia, sobre o que pensava e como enxergava. 

O mundo estava normal. A gravidade continuava a mesma, as árvores permaneciam com a mesma vivacidade da qual ela se lembrava ter visto um dia. As ruas estavam repletas de crianças brincando e se divertindo, de casais passeando e de cachorros correndo e pulando. As pessoas não haviam mudado, e, ainda que todo e qualquer ser humano se perca vez ou outra durante seu trajeto pelo mundo, naquele momento em especial, sabiam exatamente aonde estavam e porque viviam.

Era apenas ela, refletindo suas emoções naquilo. Para se sentir melhor? Talvez. A infelicidade, quando compartilhada, se torna menos desagradável. Quem sabe, ela havia escolhido essa perspectiva para fugir um pouco de si e poder sentir que ainda havia um mundo para ela, apenas esperando para ser explorado. Talvez na próxima esquina, se ela tivesse a coragem necessária para chegar até lá e virar, descobrisse que fora apenas uma passagem ruim, mas logo a frente estava sua escapatória.

Permaneceu imóvel na beira da calçada, observando tudo o que sua mente criava e fazia acreditar ser real. Não se sabe até hoje o que a levou até aquele ponto, até aquela sensação. Aos poucos, ela foi caminhando. Para qual direção? Aquela que seu coração a guiasse. O que ela encontrou no caminho ou quem a encontrou durante esse tempo, não se sabe. Mas, depois que ela deu o primeiro passo, desprovida de lucidez, ela acabou encontrando sua sanidade. E continuou. Passo a passo, degrau a degrau, momento a momento. Tudo o que se sabia sobre ela, era que precisava redescobrir o sentido de algumas coisas. As quais é impossível viver desacreditando. E tudo o que ela sabia, era que precisava seguir em frente... sempre.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Tecendo suposições

- E como você tem passado nas últimas semanas? - Eu simplesmente precisava saber.

"Que pergunta estupidamente calculada" pensei comigo. O que será que ele espera que eu responda? O que será que eu respondo? Já não paro para pensar como me sinto há dias, e provavelmente não terei capacidade para lidar com isso agora. Não aqui, de frente com ele. Seus olhos me fitando e sua face imóvel, tipicamente absorto em pensamentos, pronto para ser despertado pela minha resposta. 

- Não sei. - Sim, eu respondi exatamente isso. Era o que eu tinha para expressar no momento. Sou um turbilhão de sentimentos interrompidos. Alguns se sentem renegados e afugentados pela angústia, outros acreditam que devem lutar para serem recompensados. Nesse duelo, tenho perdido noites e dias, sono e fome. Já não posso ser a pessoa que tinha confiança em seu amor próprio. Como poderia? Nesse mix de confusão que ofusca minha lógica. Hora insensível, hora dramática. Ainda ontem havia decidido desligar todo esse lado emocional, desconectar de lembranças que poderiam me afligir novamente. Ainda ontem...

- Hm... bom, você parece bem. - Mas que droga! Como ela parece serena. Como ela consegue? Tenho certeza de que já não pensa mais em mim, e não posso culpá-la, eu também não queria pensar mais nela. Mas, cada vez que ela pisca os olhos, tenho medo que desvie. De mim. De nós. E se ela já não me sente mais como parte dela, por que ainda sinto que estamos tão próximos?

- Bem. É, parece ser essa a palavra para o momento. - Foi o máximo que consegui me concentrar para responder. Talvez eu esteja bem, talvez eu tenha conseguido me desligar. Ele soa tão indiferente à minha indiferença. Então por que não sinto que estamos realmente desconectados de nossas lembranças?

- Preciso ir. Espero poder encontrá-la mais vezes. - Sim. Foi essa a frase que escolhi para me despedir, meu adeus e meu desejo.

- Eu também. - A educação falou mais alto aqui. Não sabia se realmente desejava isso. Não gosto de incomodar meu desligamento com faíscas de esperança. 

Então, cada um virou para um lado. Seguiram separados, cada qual com suas suposições e tecendo ideias vãs a respeito daqueles minutos. É difícil dizer quando ou se chegaram a se ver novamente. Encontraram novos sentimentos em novas pessoas e foram felizes assim. A realidade é que a separação física maltrata suas vítimas a tal ponto onde é preferível pensar que acabou e não há volta. E, enquanto essa separação durar, as suposições duram com ela. Mas às vezes basta um encontro de olhares para remexer aquele passado. E por isso sentimentos são tão difíceis de lidar, porque insistem em sobreviver a toda e qualquer distância, suportando longos períodos de separação só para terem o prazer de serem revividos vez e outra.