terça-feira, 23 de maio de 2017

Ninguém precisa saber

Eu preferia não ter que passar por isso de novo.

Todos nós sabemos como é dolorido, doído e desgastante ter que deixar de gostar de alguém. A força que isso exige, não somente da nossa mente, mas também do coração. O exercício diário de ter que arrancar lembranças que ainda parecem fazer tão bem, de ter que deixar de lado um convívio - por menor que seja naquele momento - porque aquilo não parece ser mais uma boa ideia.

É esse o problema. Pode não parecer ser uma boa ideia, podemos saber que é uma péssima ideia de fato, mas e quando a gente sente que aquilo nos faz bem? Como trilhar um caminho que precisamos começar do zero quando já estamos no meio de um que parece tão certo? Como nós, ou alguém, pode ter certeza de que adiante, aquilo não vai dar em nada? A gente precisa ir na intuição, porque nesse momento não se trata nem mesmo de seguir o próprio coração - ele apenas sente e já está cansado.

Por isso é tão dolorido. Passa um dia, um mês e nós vivemos em uma montanha russa de altos e baixos. Têm dias em que está tudo bem e, em seguida, a gente não consegue mais levantar da cama sem sentir aquela pontada de desespero, aquele peso que nos cerca de todos os lados e nos faz retroceder.

Há alguns dias, realmente não faz muito tempo, cheguei em casa e fiz o que costumo fazer: jantei, fui para a academia, voltei e comecei a me arrumar para sair. Naquela noite, lembro com clareza a hora em que me olhei no espelho e, lamentavelmente, chorei. Não consegui evitar. Eu via um reflexo, mas sabia que por dentro tudo estava bagunçado. Por fora era uma máscara que enganava, muito bem por sinal, mas por alguns segundos conseguir ver quem eu era realmente naquele momento através do que eu sentia e, posso dizer? Nunca doeu tanto me ver assim.

Eu quis parar, quis deixar tudo de lado, deixar para trás um passado que, simplesmente, não me pertence mais. Nunca me pertenceu. Me desfazer de algo que nunca foi meu, que nunca deveria ter sido e que, ainda assim, deixei que fizesse parte de mim. Tão parte que hoje sinto como se nunca pudesse voltar ser possível viver sem ter um vestígio daquilo, não necessariamente da pessoa, mas das lembranças, do sentimento.


Todos nós sabemos como é desgastante ter que deixar de gostar de alguém, mas também sabemos que vamos seguir em frente. Que outra opção teríamos? A gente PRECISA seguir em frente, acordar, se refazer, dia após dias. Mas é de dentro para fora que precisamos retomar a vida, ter um ponto de partida. Ainda hoje, quando me vejo no espelho, há muito de mim que não reconheço ali, muitas partes que sinto saudade.

Passa o tempo e ainda não é agradável encarar o próprio reflexo, ainda há muito a ser feito e, sabendo disso, nós seguimos dia após dia, drama após drama, momento após momento, na certeza de que um dia passa, pelo menos a maior parte do que sentimos, aquela parte que ainda dói, um dia ela passa. E, no final das contas, se formos avaliar, para e pergunta para si mesmo: "sou infeliz?". A resposta, no meu caso, vai ser que não, não sou. É um mau momento que já dura a tanto tempo que parece ser uma vida, parece ter se tornado parte de mim essa mau e, quanto mais tempo a gente se enrola e se segura no que sobrou, mais tempo demora para se refazer depois, mais difícil se torna encarar a si mesmo no espelho.

Por isso, na certeza de que irei sobreviver e seguir, mesmo que ainda pareça tão difícil acreditar que um dia passa, sigo. Porque um dia passa, né? E a gente nunca sabe o que Deus tem reservado para a gente logo adianta, passando por essa curva sinuosa ou seguindo além daquela subida íngreme e difícil. Quem sabe ali, logo ali, a gente se encontre de novo e se reconheça mais uma vez.

E nesse trajeto, vou ao som de boas histórias e lembranças... "Se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer (e eu vou sobreviver). O que eu ganho, o que eu perco, ninguém precisa saber..." ♥