quinta-feira, 17 de abril de 2014

Entre o adeus e o sentir

Não haveria de proferir-lhe uma palavra a mais que fosse. Concluíra que novos argumentos de ambas as partes não levariam um passo a frente - antes fariam regredir. Colocou-se de pé, sem já saber como poderia suportar aquilo ou de que maneira iriam seguir agora. De fato, não haveria mais sentido permanecerem juntos, haviam deixado isso claro há alguns minutos, mas, na realidade, isso já estava destinado a acontecer desde o começo. 

Agraciados com gênios fortes, não possuíam compatibilidade alguma, mas a teimosa recíproca fazia com que tentassem permanecer unidos. Os últimos dois anos foram os mais turbulentos dos quatro, e agora, frente a frente, tiveram seu primeiro momento de entendimento: viram que já não mais haveria de fazer sentido prolongarem essa união por mais um dia. Em meio as lembranças de alguns bons momentos, ainda que raros, deixaram permanecer a Paz da despedida. Não houve rancor, acabaram-se os gritos e não foi feita uma cena de filme mexicano.

Ela ainda não sabia como haveria de iniciar essa nova fase, mas já obtinha planos possíveis. Desejos e sonhos que a faziam ver alguma luz à frente, para lá que seguira. Ele ainda não possuía um cronograma definido do que fazer depois, mas não se deixou abater pelo imprevisível, tinha uma intensa paixão pelas surpresas que a vida lhe apresentava. Assim sendo, souberam despedir-se, sem mágoas, sem desafetos e sem indagações. Já haviam provado um ao outro tudo o que fosse possível tentar para manterem-se lado a lado, mas os argumentos haviam terminado e a paciência também. Entretanto, não podiam permetir-se que houvesse um rompimento sentimental, o amor deveria permanecer vivo em seus corações, e, por mais que soubessem e admitissem não fazerem sentido juntos, sabiam que se amariam até o fim de suas vidas.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A raridade da constância

Não sabia como deveria seguir dali para frente, mal sabia que era apenas uma questão de começar a andar, seu caminho já estava traçado e a levaria adiante. Já havia passado por isso tantas e tantas vezes. Com os prós e contras que a vida lhe impôs, havia aprendido muito. Era uma garota que desprezava as coisas insensíveis - era de primordial importância que houvesse uma sensação, um desejo, um incentivo. Sua essência ansiava por novas descobertas, as imprescindíveis novas experiências que fariam parte de suas novas escolhas. A vida é uma constante mudança e a renovação sempre vai fazer parte da vida de qualquer e todo ser.

Seu estado de espírito era inconstante: hora apaixonada, hora rancorosa, hora encantada, hora desacreditada. Como todos nós somos, ela também era várias em uma só e a cada momento se transformava. Entretanto, diferente das almas que conhecemos, ela tinha uma vantagem: sabia se recompor cada vez mais forte, mas o principal era: sabia se manter quem era. Com as inevitáveis despedidas e os desejados encontros, ela ia ganhando forma, mas não se deixava levar pela tristeza de um adeus, ou pela empolgação de um olá. Como sabia, haviam poucas pessoas que a entendessem, porque na grande parte, basta uma despedida para modificar e reestruturar uma essência.

Nem todos são suscetíveis a dor sem obter disso trauma algum e poucos são os que sabem aproveitar a felicidade deixando um pouco guardado para depois. Alguns acham mais prudente desfrutá-la por completo, sem lembrar que, em algum momento, precisarão revivê-la e o encanto dela precisa e deve estar lá. Mas, como se supõe, ela era uma raridade do mundo, e era isso que procurava em cada esquina, em cada olhar e em cada encontro: uma raridade que soubesse com ela, desfrutar os anseios e devaneios constantes.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

As várias faces de Anne

Desde o momento em que acordou até a hora em que se deitou para dormir novamente, Anne foi várias pessoas em uma só. Pela manhã, aborrecida pelos compromissos matinais diários - ir trabalhar - virou para o lado e resmungou. Respirou fundo duas vezes e levantou. Zonza pelo movimento, cambaleou até o banheiro e começou a se arrumar para sair de casa. Seu humor fazia dela uma pessoa anti-social e principalmente, alguém difícil de se conviver. Ela olhou para o relógio que apenas mostrava que eram 8h, sentindo-se apressada e acusada por um aparelho eletrônico de estar atrasada, o xingou. Voltou para o quarto. Dentes escovados e cabelo penteado. Sua roupa já era separada na noite anterior para economizar tempo. A porta do armário ficava aberta a noite inteira para evitar que, de manhã. tivesse um de seus momentos revoltados e travasse. Roupas colocadas. Sua aparência já era melhor. Um pouco de perfume, um brinco bonito e... uma água no rosto. Pronto. Já se sentia melhor. Nesse momento, ela se transformava em uma Anne sociável.

Saindo de casa, pegando o pote que tinha seu lanche da manhã pronto, conferiu se tudo estava fechado e deu tchau para sua companheira de quatro patas, a querida e espoleta Leslie. Saindo e trancando a porta atrás de si, pegou o elevador e foi até o andar térreo. Entrou e seu carro e, antes que pudesse pensar em todo o trânsito que enfrentaria, colocou a melhor música do seu repertório: "Matchbox Twenty - Unwell". Música era como um jato de calmaria no estado de espírito agitado da garota. Ligou o carro, saiu da garagem e seguiu em direção a um novo dia de trabalho. Depois de meia hora, chegou ao seu destino, nem tão transtornada pelo atraso - a música, mais uma vez, havia salvado seu humor naquela manhã. Estacionou e foi em direção à fábrica. Entrou, cumprimentou a todos com um sorriso encantador e seguiu em direção a sua sala. Naquele lugar, ela era a Anne amável, respeitada e admirada pelos colegas.

O relógio marca 18h. Hora de correr! Anne sai às pressas, corre para o carro e segue em direção a faculdade. Nem todo dia há tempo para tomar banho, trocar de roupa e comer algo. ela chega 18h45min - 15 minutos após o início da aula. Estaciona e corre para a sala. Lá, ela é a Anne dedicada, atarefada e afobada. Uma garota que as pessoas gostam de ter por perto e que representa um bom caráter. Apenas algumas horas depois, às 22h, as aulas terminam. Hora de voltar para casa, ou melhor, para Leslie. Perto das 23h Anne chega de volta ao condomínio. Deixa seu carro lá, com o alarme ligado, vai para o elevador e chega ao apartamento 512. Abre a porta e é recebida por pulos e um rabinho feliz e incontrolável. Lá, Anne é a pessoa que ama, cuida, alimenta e dá carinho. A representação de uma mãe amável e dedicada. Após fazer pipoca, abrir uma lata de guaraná e sentar no sofá, Anne se transformava na garota romântica e alegre que se emociona com filmes de romance e se diverte assistindo Friends.

Perto da 1h, ela vai para a cama, acompanhada de Leslie, que já dormia na sala. Junto a sua pequena companheira, dorme e parte para o mundo dos sonhos, onde ela é a garota fantástica que todos os dias procura vir a ser - cada dia um pouco mais, até alcançar seu objetivo. Seis horas depois, o alarme do celular começa a tocar, acordando-a para mais um dia. Mas hoje seu humor não é tão negro. Ela levanta, sem nem precisar suspirar ou resmungar. A cada dia, ela incorpora mais de dois ânimos, variados estados que vão do estresse a afobação, e da saudade ao drama. Mas conforme as horas passam, diariamente, ela aprende a conviver com aquele dia que lhe foi dado. Pensava: "hoje não há motivos para se preocupar com tempo ou pensar no amanhã, afinal, hoje é sexta-feira". E assim, partiu para aquele que considerava o dia mais incentivador da semana, que corria com um único propósito: fazer com que Anne chegasse logo em casa e pudesse passar várias horas assistindo filmes e comendo besteiras com Leslie, sem hora para dormir ou acordar, e sem hora para se sentir infeliz.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Pendências: o mal das gerações

Um tema muito abordado nos últimos anos é a questão do tempo, ou melhor, a falta dele. Ironia falar que se comenta sobre isso há anos e mesmo assim a insatisfação e falta de solução permanecem. Vários livros foram lançados sobre as melhores maneiras de organizar seu tempo, mas as pessoas não querem seguir uma fórmula, mas sim conseguir realizar seus sonhos. O problema é o acumulo: o desejo de estudar, se sair bem, conseguir um bom trabalho, ter tempo para os amigos, ter tempo para a família, dedicar tempo ao companheiro e desfrutar de algumas horas de paz, enfim, ter o seu próprio lazer.

Nos primeiros anos da infância, conhecidos como os anos mais felizes e saudosos de nossas vidas, não há falta de tempo, às vezes, há até uma sobra dele. A vida se resume a aproveitar - se divertir, rir, brincar, inventar passatempos e fazer as tarefas. E conforme a criança vai crescendo, todo aquele brilho e liberdade que possuía vai sumindo aos poucos. E então, a responsabilidade é dela? Por ter que dedicar menos tempo para si e mais para as exigências do mundo? Ou é do mundo, que exige dela esse tempo para que ela possa se envolver nos assuntos sociais e fazer parte de um todo? Não há como realizar sonhos sem dinheiro, não há como ter dinheiro sem trabalho, não há como ter um bom trabalho sem uma base forte de estudo, não há como obter o estudo e o conhecimento sem dedicação, não há como possuir essa dedicação sem envolver horas de seu tempo para aprimorá-la. Não há como aprimorar o principal sem se desvincular do essencial - o lazer, o prazer.

Então, voltamos a pergunta que ronda as gerações passadas e mais ainda a atual: como podemos ter tempo para tudo? Bom, mesmo com inúmeras publicações, conselhos e dicas, a verdade que permanece até o momento é: não podemos. Dificilmente haverá como realizar todas as coisas que você sonha e fragmentar pedaços do tempo para serem utilizados da maneira que você deseja. Ainda que o dia tivesse 48 horas, as dificuldades permaneceriam, devido ao fato de que quanto mais tempo possuímos, mais queremos fazer bom proveito, e o bom proveito é proveniente principalmente de um trabalho bem feito para alcançar metas - algo que, quanto mais tempo possuísse, mais exigiria.

A maneira mais eficaz que conheço para não se sentir oprimido pelas responsabilidades e saudoso das vontades é: a cada dia, foque em uma prioridade. Um dia, se dedique ao estudo, no outro, se dedique aquela leitura que está sendo deixada sempre para depois, em seguida, esteja mais disposto no trabalho para poder descobrir novos meios de realizar aquela mesma tarefa, mas de uma maneira inovadora e mais eficaz. No dia seguinte, separe um tempo para dedicar aos seus relacionamentos - seus amigos, parentes e namorado. E assim, dia após dia, concentre-se em uma nova perspectiva, mas o grande segredo é: nunca esqueça que, apesar do enfoque, todo o resto merece atenção. Se você nunca deixar nada parado e para depois, conseguirá obter um resultado a mais em alguma coisa cada dia, e vários resultados significantes que irão servir para manter seus objetivos em andamento. Talvez ainda haja algum tempo faltando, mas nunca com coisas pendentes - são elas que sufocam.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O destino das almas

Diariamente encontramos e conhecemos novas pessoas, novas formas e novas histórias. Nos deparamos com suas situações, medos e aflições, mas também temos a sorte de conhecer seus sonhos e sua alegria. Deus nos concede a chance se viver cada novo dia, mas as pessoas que entram em nosso caminho nada mais são do que uma consequência de uma série de escolhas que nos possibilitaram estar aqui hoje. Em um mundo marcado por encontros passageiros e desencontros indesejados, uma alma especial sabe reconhecer instantaneamente a outra. 


Depósito de sentimentos

Lugar de descanso, onde corpo e mente repousam para deixar que os pensamentos fluam livremente. Não há uma pessoa que já não tenha aproveitado do conforto que ela oferece. Entretanto, ali, naquela sala, sua superfície plana era muito mais que um lugar onde se está rodeado de amigos, jogando conversa fora ou simplesmente esperando - lá ela serviria como suprimento para as mais diversas pessoas, das mais variadas culturas, jeitos e carregadas com os mais intensos sentimentos. 

Com seu encosto reclinável e seu assento estofado, quem deitava-se ali estava o fazendo com apenas uma intenção: deixar as palavras saírem e o corpo relaxar. Isso era tudo o que poderia oferecer para aquelas tristes e sonhadoras pessoas: conforto. Já nem sabia ao certo quantos anos fazia desde que havia sido retirada da loja e colocada naquela sala, mas lembrava-se de cada um que já utilizara seus benefícios e toda vez que a pessoa voltava ela estava preparada para oferecer uma estadia ainda mais agradável. 

Cada coisa que é feita no mundo possui seu propósito, uma tarefa, uma missão. Ela sabia qual era a dela e sempre tratou de fazê-la com a maior dedicação possível, dando o melhor de si. Aqueles que acreditam que os objetos são apenas matéria, com certeza entenderão esse texto como uma loucura. Mas aqueles que conseguem pensar e sentir além entenderão o quanto isso pode confortar o que muitos sentem. As coisas não são feitas com tanta perfeição para serem apenas "coisas", e naquele consultório de psicologia era isso o que aquela simples cadeira representava: companhia.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Fantástico Mundo de Larry

Como foi a principal fonte de inspiração - além da minha mãe - para criar o blog, nada mais justo que ter como primeiro post a história de Larry, uma caneta com uma missão e um significado muito maior do que o mundo tradicional poderia compreender. A linha de pensamento foi inspirada na aula de redação, que tinha como tema: caneta. As melhores ideias resultam das circunstâncias mais loucas e inusitadas :)


O Fantástico Mundo de Larry

            Em 1999, nos Estados Unidos da América, no estado da Pensilvânia, na cidade de Washington, havia uma fábrica de canetas chamada “Pen For Fun!”. Em janeiro daquele ano, em homenagem aos 140 anos da cidade, a fábrica fez uma coleção de canetas nomeada “Colorful World” – todas possuíam o emblema do município. A coleção era tão especial que foram criadas apenas 80 canetas, sendo que cada conjunto de dez possuía uma cor diferente, que variavam entre roxo, rosa, verde, azul, preto, cinza, vermelho e laranja. Após concluir a coleção, foram enviadas uma de cada cor para cada papelaria da cidade. As embalagens era individuais e cobriam a caneta inteira, sendo assim, era impossível saber qual cor havia sido escolhida até que o papel fosse rasgado.

            Cada caneta possuía um nome, e, uma em particular, foi batizada como “Larry”. Assim como todas as outras canetas, Larry foi destinado para um centro de comercialização de materiais escolares, mas seu destino seria muito diferente das outras. A partir do momento em que há um valor, nada é algo – tudo se torna importante e significante. No seu material, em sua parte interior, onde fica protegida o canudinho que possui a tinta, estava escrito: “Há uma missão para qual você foi destinado, e só você saberá. Alguém irá precisar de você para descobrir a si mesmo, e você será essa passagem para a concretização de uma vida.” Incrível, mas, as palavras diziam a verdade, ele seria a ponte para a iniciação de um projeto que iria muito além do que ele poderia imaginar.

            Lucas Weter, conhecido como Luke, era uma garoto de cinco anos, mas não era como as outras crianças de sua idade. Lucas tinha autismo, uma doença mental que dificulta o convívio social e a aceitação das regras na sociedade. Apesar de ser filho único, seus pais nunca lhe mimaram demais ou o fizeram se sentir diferente. Naquele ano de 1999 ele iria iniciar sua vida escolar, e, para tentarem animar o filho que estava cabisbaixo a dias, seus pais, Dan e Loly, o levaram até a papelaria “Paper Dreams”, localizada no centro de Washington. Chegando ao local, tudo era novidade para Lucas, que vivia no norte da cidade e dificilmente saía de casa para ir a qualquer lugar. Na entrada, haviam balões enfeitando e fazendo um convite às crianças. Ao entrar, haviam dois caixas e apenas um corredor. Do lado direito, estavam empilhados cadernos, dicionários, pastas, fichários e arquivos derivados. Do lado esquerdo estava a parte colorida, repleta de canetas, hidrocores, lápis de cor, giz de cera e demais utensílios de pintura e escrita. No fim do corredor, a parede era enfeitada por uma folha de caderno gigante, repleta de desenhos e balões com falas. Uma em especial chamou a atenção de Luke, mas ele ainda não sabia ler, então seu pai lhe disse o que estava escrito: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.”. Aquilo chamou muito a atenção de Lucas, que foi andando com seus pais até o caixa, pensando no que aquela frase realmente significava. Quando chegou a hora de pagar pelas aquisições escolares, seu pai estava fazendo o cheque e Lucas disse: “Papai, não!”. Dan olhou assustado, pensando que algo havia acontecido, e, quando olhou para seu filho, viu que seus olhos brilhavam por uma embalagem que estava exposta. “É da coleção Colorful World, é a última que temos. Foi uma passada”, disse a atendente do caixa. Luke olhou para seu pai e ele entendeu que aquela caneta deveria ser do menino, assim sendo, comprou-a.

            Quando chegaram em casa, apesar de possuírem duas sacolas repletas de materiais, a primeira coisa que Luke foi pediu foi a “embalagem dos sonhos” – ela possuía algumas nuvens e estrelas, que, nas histórias contadas por sua mãe, remetem ao mundo mágico. Quando abriu, com todo o cuidado, a embalagem, havia dentro uma caneta esferográfica de cor verde, que resplandeceu aos olhos castanhos do garoto. Junto à caneta, estava um papel, que sua mãe leu. “Esta é a caneta Larry. Sua missão é colorir a vida de quem a possua. Ela é feita para ser usada de maneira inteligente, para criar sonhos e realizar aventuras.” Aquele trecho marcaria para sempre a vida de Luke e a existência de Larry. Quando sua mãe terminou de falar, o menino colocou o papel dobrado e a caneta de volta na embalagem e disse para sua mãe guardar, pois ele ainda não era inteligente o suficiente para usá-la. E assim foi feito.

            Larry estava em um canto da estante, em cima de um livro, no escuro, e  seu proprietário não lembrava dele havia anos. Sua missão era realizar sonhos, e ele esperava ansiosamente por esse momento. Esteve pensando todo esse tempo nas histórias que iria criar e nas coisas que poderia realizar para aquele garoto que ele não via há muito tempo. Para muitos, isso parece impossível, afinal, canetas não têm vida, elas não falam, não andam, não fazem nada, apenas escrevem quando são solicitadas. Mas há um engano: elas sentem. E por isso, Larry sabia quanto tempo ele estava parado, mas sabia também que isso significava que em breve realizaria algo enorme, essa era sua missão.

            Era uma tarde de outono, o ano era 2011, e Lucas Weter estava se formando no Ensino Médio. Seu pai já havia falecido há dois anos, mas Loly estava na primeira fila para prestigiar o filho. Após todas as comemorações, os dois foram para casa. Lucas estava com seu quarto bagunçado e decidiu organizá-lo. Ao tirar um caderno do primário da prateleira, algo colorido caiu de cima dele e fez um estalo no chão – era Larry. Lucas se lembrava muito bem da última vez em que a havia visto, e isso trouxe boas lembranças de seu saudoso pai. Luke pegou-a do chão e retirou-a da embalagem dos sonhos. Ele nunca havia a pego e sentido realmente. Larry tinha cerca de 20 centímetros. A ponta era 0.5, sua superfície era irregular – no início havia uma borracha para confortar a escrita, ela era em um tom verde mais escuro e possuía relevos em formato de bolinhas. Na parte de cima, seu aspecto era liso. O que realmente chamou a atenção do rapaz foi a parte interior – haviam várias palavras escritas, mas tão pequenas que só poderiam ser lidas com uma lente de aumento. Após admirá-la por alguns instantes, Luke pegou a embalagem e viu o bilhete que sua mãe havia lido 12 anos atrás. Após se formar no terceiro ano, o garoto ainda não sabia qual caminho seguir e o que fazer com o seu futuro – palavra que achava tão vasta e assustadora. Ele pegou a caneta de novo e avaliou se, agora, após tanto tempo, teria a inteligência necessária para utilizá-la da maneira certa.

            Larry sentiu um impacto. De repente, a embalagem foi aberta e Larry viu o rapaz que não via há anos. Ele continuava com olhos e cabelo escuros, mas havia crescido, com certeza. Larry adicionou ao seu interior a frase: “Todo sonho pode ser realizado com uma folha de papel e uma caneta.” Ele havia ouvido Luke falar essa frase por vários anos e decidiu que quando fosse a hora, ela faria parte dos dois, essa seria sua grande conexão, e foi. Agora, faltava apenas fazer com que seu proprietário, e em breve amigo, percebesse a sua importância. Mas isso aconteceria logo, quando, finalmente, Larry se encontraria com uma textura diferente e que ele tanto sonhava – uma folha de papel.

            Já faziam algumas horas desde haviam voltado e Loly sentiu falta do filho. Ao subir no quarto dele, no segundo andar da residência, ela o viu sentado na escrivaninha, debruçado sobre uma folha de papel, discorrendo linha atrás de linha, palavra atrás de palavra, ideia atrás de ideia. Aquilo era uma novidade, então ela perguntou: “Querido, está inspirado?” e ele respondeu: “Pode parecer loucura mamãe, mas assim que peguei Larry tive uma excelente ideia e comecei a escrevê-la”. “A loucura é parte essencial do sucesso querido”, respondeu sua mãe, e saiu, fechando a porta atrás de si. Larry realmente era uma fonte de inspiração, ele e Luke se tornaram unidos, como se fossem apenas uma mente, os pensamentos coincidindo, as ideias fluindo loucamente, uma atrás da outra. Mas, espere. Pode uma caneta pensar? Oras. Claro que sim! Afinal, aquela não era apenas uma caneta – era uma companheira, uma confidente e uma amiga. Lucas, que sempre foi tão sozinho e recluso, conversava com Larry sobre tudo e, a cada nova conversa, uma nova ideia surgia. Daquele dia em diante, quem viu Luke, pode afirmar que ele estava diferente, e realmente estava. Ele não estava mais sozinho – seu companheiro o acompanhava aonde quer que fosse. Após muitas escritas e muitas tentativas de publicação, nada havia deslanchado. “É incrível, é como se a tinta fosse infinita”, pensava o jovem aspirante a escritor. Somente no ano de 2012, após sete meses decorridos em cima de uma ideia e muita conversa com Larry, houve a primeira centelha de sucesso – um livro chamado “A normalidade não é essencial para ser feliz”. O livro contava a história de um garoto autista e, em grande parte da história, Luke se baseou em sua vida – experiências boas e extremamente desagradáveis.

            Como sabia desde o dia em que fora fabricado, Larry agora podia afirmar que sua missão estava sendo cumprida, e da melhor e mais feliz maneira possível. Ele escrevia sobre sonhos impossíveis – ops, não mais. Nada mais podia ser dito como impossível. Agora que Luke sabia qual era seu dom e sua tarefa, seu amigo verde se sentia em dia com seu dever, mas não queria parar, cada vez dava mais e mais de si para continuar acompanhando o rapaz em sua jornada, ele ainda tinha muito caminho para percorrer e novas estradas para criar e descobrir.


            Após a ameaça de sucesso em 2012, em 2014 as coisas realmente começaram a acontecer. O livro de 585 páginas, intitulado “O Fantástico Mundo de Larry” havia sido publicado e se tornado um grande sucesso. O livro falava sobre a vida de um garoto comum que, no lugar mais inesperado, encontrou o valor da vida. Larry – a caneta amiga – teve sua última aparição na escrita desse sucesso. Sua tinta havia acabado, mas sua inspiração seguiu com Lucas por todos os anos e histórias. Nunca haveria alguém, ou alguma caneta como Larry, e por isso, ele ainda estava no bolso de Lucas – todos os dias, horas e minutos. Questionado por um de seus fãs sobre o que porque dele levar consigo uma caneta vazia, o escritor respondeu: “Esse é o Larry. Sua missão foi colorir minha vida. Ele foi feito para ser usado de maneira inteligente, e me ajudou a criar sonhos e realizar aventuras."

De onde surgiu o "Asas de uma leitora"?

"Asas de uma leitora"é o resultado de um desejo imenso. Sempre tive vontade de criar um blog, mas nunca soube sobre qual assunto gostaria de abordar. Em uma aula de redação jornalística, foi nos dada a tarefa de escrever um texto. O tema? Caneta. Sim, parece algo louco, e é. Mas que jornalista é são? Escrevi meu texto e me senti satisfeita com o resultado. A partir dessa satisfação surgiu a ideia de criar um blog. Se você se perguntar sobre qual assunto vou tratar, minha resposta será: todos. O mundo é um processo contínuo de transformações e revoluções, e eu já aprendi a muito tempo que nada deve permanecer o mesmo por um longo período, ainda mais quando somos escravos eternos do que sentimos e pensamos - e isso são coisas que mudam a todo instante. O processo de descobrimento e conhecimento nunca pausa, nunca para, e eu não desejo que se torne permanente algum dia.

A escolha do título


Quando se decide algo em cima da hora, as coisas obviamente não aparecem prontas e perfeitas em nosso pensamento. Estava ouvindo a música "Bigger Than My Body", do cantor John Mayer e o título apareceu de relance. Como estava tentando criar algo diferente e minha inspiração é - além da leitura - a música, "Asas de uma leitora" me soou perfeito, visto que, sou fã do mundo da imaginação - apesar de manter minha apreciação pelas histórias reais, principalmente nas quais há relatos históricos de sobreviventes ou uma história geral sobre o início e o crescimento de algum país ou local. Mas, para qualquer leitor fará sentido o que escreverei a seguir: em um mundo normal, se você não tem asas, não sai do lugar. Apenas caminhar e criar raíz já não basta.